Amigos do Fingidor

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Novo livro de Marta Cortezão: uma poética cartografia de silêncios e seus diálogos


Marta Cortezão lança meu silêncio lambe tua orelha.


Marta Cortezão está com o seu terceiro livro de poemas, meu silêncio lambe tua orelha (Editora Toma Aí Um Poema/PR) em pré-venda pelo site de financiamento coletivo Benfeitoria e pode ser acessado pelo endereço https://benfeitoria.com/projeto/lambe. A campanha vai até o próximo 1º de maio.

meu silêncio lambe tua orelha revela uma poética cartografia de silêncios que suscita infindos diálogos entre as inúmeras vozes que se desviam, mas que, ao mesmo tempo, se encontram no corpo nu, flexível e dinâmico da linguagem.  Diálogos que fogem à lógica e transcendem sua corporalidade semântica bem como a essência das coisas e seus ruidosos silêncios, mas que não se esgotam, pedem mais e mais interação. Do ponto de vista literário, o livro traz uma abordagem poético-contemporânea sobre a escrita de autoria feminina e seu devir criativo, mas não somente.



A escritora Vania Clares (SP), que assina a orelha do livro, opina que meu silêncio lambe tua orelha “nitidamente nos remete ao universo feminino numa dimensão diversificada e vasta. A poeta parte das citações de outras escritoras e embrenha-se com maestria em cada palavra para escrever o poema, não só acatando o sentido na sua interpretação, mas criando um corpo que complementa as premissas. (...) Muito mais que isso, a elasticidade dos silêncios devora o corpo desde as entranhas até a alma, quando escancara a sua compreensão de mundo, vivência esta que exercita freneticamente.” 

Uma amostra da poesia de Marta Cortezão:

 

Eu não nasci rodeada de livros, e sim rodeada de palavras.

{Conceição Evaristo}

 

geossintaxe

 

com passos indecisos

percorro as sentenças

da língua que me devora

 

reviro os escaninhos

dos verbos obtusos

cuja geometria

adensa os advérbios

que florescem das pedras

 

meus sapatos sujos de pausas

deixam todas as pegadas

órfãs de sintaxe-delírio

 

onde guardei a palavra exata

com gosto de chuva? 

 

onde minha língua

se entrelaçará na tua

para cópula ardente

de neologismos?

 

quando o sexo verbal

gozará metonímias

em teu corpo metáfora

afro afrodisíaco

Afrodite de palavras?

 

A poeta, escritora e professora Lucila Bonina, ao ler o poema “geossintaxe” que compõe o terceiro poemário de Marta Cortezão, afirma o seguinte: “‘geossintaxe’ é um poema sussurrado por voz afrodisíaca: interroga, induzindo a resposta; oculta, sugerindo onde encontrar; provoca a memória silenciada a vislumbrar um futuro sonoro. Cai na alma como escudo e inspiração. É assim que me toca o poema de Marta. A força que emerge da voz poética feminina que sabe de si e de outras, da língua e do mundo, da luta e do amor.”

Nas palavras de Marta Cortezão, o livro surge “de um silêncio ancestral, social, histórico e político (...). É um compêndio de sonhos repleto de um silêncio eloquente que pede revoada, exige o movimento, o grito, a voz, o canto, a alma, o corpo com todos os seus sentidos, a dança, a liberdade para conjugar o verbo existir em toda sua amplitude, essência e intensidade (...), porque a linguagem que se (re)move em “distraído silêncio” é pássaro indomável, flana livre, foge e se desata mundo afora em busca do “fero desejo de pássaros” a esticar infinitos.” A proposta da autora é de que o livro possa ampliar o diálogo com outros olhos leitores, dedilhando outras silentes notas que, por sua vez, romperão a barragem de outros desconhecidos silêncios, “deixando seu rastro / azul de céu / no mar das coisas / inomináveis”, porque a poesia é correnteza de águas fluindo linguagens.

Os silêncios são o adubo para escrita da autora e ganham, dentro de sua textura volátil e paradoxal, liquidez e profundidade linguístico-poéticas. Para Cortezão, há silêncios que gritam, outros que sugerem, outros que cantam, outros que libertam, outros que aprisionam... Há tanta vida nos silêncios que se solidificam em nós, também nas memórias não vividas que herdamos pela linguagem... Há uma solidão sonora, fria muitas vezes, que brota das pedras, do vento, das águas, de lugares impensáveis para não dizer, mas sempre dizendo do inominável... É preciso afinar os sentidos! Há sempre tanto para essa condição real e humana de sermos tão pouco ou nada no mundo! Eis aqui o que há: silêncios, aqueles no quais nos converteremos quando tudo chegar a ser nada.

 

Sobre a autora

Marta Cortezão (@martacortezaopoeta) nasceu em Tefé, no Amazonas. É escritora e poeta. Possui publicações em antologias nacionais e internacionais. Livros de poesia publicados: Banzeiro manso (Porto de Lenha Editora, 2017), Amazonidades: gesta das águas (Penalux, 2021), Zine Aljavas para Cupido (2022). meu silêncio lambe tua orelha (TAUP, 2023) é seu terceiro livro de poesia. Colunista da Revista Literária Voo Livre. É idealizadora das Tertúlias Virtuais (Prêmio APPERJ/2021) e do blog Feminário Conexões (https://feminarioconexoes.blogspot.com/).

 

Serviço

meu silêncio lambe tua orelha (poesia, 87 p.; editora Toma Aí Um Poema/TAUP). R$ 40,00.

Pré-venda: https://benfeitoria.com/projeto/lambe