Amigos do Fingidor

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O estranho caso da Vila da Barra – 12

Marco Adolfs

– Saudações de minha parte, Carlos Costa! – resolveu apresentar-se o homem. – Sou vereador da vila e fico satisfeito quando mais um vem aportar em tão pobre e distante cidade. E o senhor, qual é o seu nome e de onde vens?

– Eurico Pompéia e venho diretamente da Corte – respondi, num rompante.

O homem abriu um largo sorriso de surpresa, e exclamou:

– Vens da Corte! Então deves ter muita coisa para contar.

– Creio que sim. – respondi.

– Sobre o Pedro, por exemplo. – continuou. – Como está se saindo aquele pobre menino com as badernas? – perguntou.

– O Araújo Lima está com a corda no pescoço – respondi-lhe jocosamente. – A Assembléia Nacional está tentando antecipar sua maioridade – continuei. E essa idéia parece ter o apoio de todos os políticos da Corte. Eles acham que só um imperador, mesmo que com apenas quatorze anos, mas no poder, acabará de vez com todas essas revoltas nas províncias.

O vereador concordou.

– Mas a propósito, o senhor disse que vende drogas? – perguntou.

– É isto mesmo, doutor.

– Interessante! – comentou o vereador, com uma ponta de satisfação exposta no sorriso largo que abriu. – Saiba que não temos nenhuma casa de vendas de unguentos e drogas em nossa vila – observou. Estamos entregues a curandeiros.

– É, eu bem o sei; por isso estou sondando o local onde abrir essa casa – afirmei com tanta convicção que até acreditei em minha mentira.

– Excelente! – exclamou o vereador. E continuou: – Se quiseres, posso arranjar-lhe a casa perfeita para manteres esse tipo de negócio. Fica quase ao lado da Câmara.

– É mesmo!?

– A casa é de minha propriedade – disse o velhaco, enquanto tomava um gole de vinho. – Venha ter comigo em minha residência e conversaremos melhor – continuou. Moro numa travessa que passa logo aqui atrás do palácio dos governadores. Um pouco mais adiante da provedoria. Toda a cidade conhece onde fica o palácio. É só perguntar e lhe indicarão. Minha casa é a de número dois. Amanhã lhe esperarei para conversarmos sobre esse seu negócio.

E despediu-se.

– Até mais ver, senhor vereador – respondi, educadamente.

(Continua na próxima terça)