Pedro Lucas Lindoso
Quando se viaja de Manaus para Boa Vista passamos pela linha
do equador. A experiência acontece após as terras dos Waimiri-Atroari. Não se
passa pela reserva indígena no período noturno. Não se pode parar na estrada
nas áreas da reserva.
Houve negociação e acordos entre a União e a tribo após o
triste episódio ocorrido nos anos setenta. De um lado morreram cerca de 200
soldados flechados pelos índios que não queriam a estrada. A reação do exército
foi dramática e de certa forma cruel. Foram mortos mais de mil indígenas.
Passar pela linha do equador é sempre uma aventura. A
paisagem sempre muda. Do nosso lado, ao sul do equador e ainda no estado do
Amazonas, a floresta parece ser bem mais densa.
A cidade de Macapá, no distante Amapá, é uma das cidades do
mundo em que a famosa linha está presente. Aqui, na América do Sul, além do
Brasil, o Equador e a Colômbia têm esse privilégio geográfico. Na África, ela
atravessa o Congo, o Gabão e Quênia, antes de chegar à Somália. E aí vai pela
Indonésia, considerando-se que a maior parte da linha do equador cruza os
oceanos.
É sabido que pelos poucos países onde ela passa não existem
as estações do ano. As temperaturas são constantes durante todo o ano e as
chuvas são bastante constantes também.
Meu amigo Chaguinhas quando adolescente foi à Europa de
navio. Não esqueceu a experiência de cruzar o equador pelo Atlântico. Houve uma
festa a bordo. E deram a ele um certificado.
Apesar do mar parecer
hegemônico. Não é. Chaguinhas me disse que aprendeu lendo um livro de Amir
Klink que em função das diferenças de temperatura, as massas de ar e água
circulam no sentido sul-norte até a linha do equador, e depois começam a descer
pela costa brasileira.
E continuou me explicando;
– Ninguém cruza a linha do equador impunemente. Tudo muda. A
água por exemplo, escorre pelo ralo no sentido horário no Hemisfério Sul e pelo
sentido anti-horário no Hemisfério Norte. O céu muda. Aqui se vê o Cruzeiro do
Sul. No norte a constelação de referência é a Ursa Maior. As estações do ano
são invertidas.
Há uma música de Carnaval de Chico Buarque que diz: “não
existe pecado do lado debaixo do Equador”. Será?
Chico Buarque se inspirou neste ditado que, segundo os
historiadores, corria na Europa desde o século 17. Refere-se, obviamente, à
suposta liberdade sexual havida nos tempos coloniais.
O carnaval vem aí. Mas hoje os tempos mudaram. Ou não!