Amigos do Fingidor

terça-feira, 4 de junho de 2024

Em Portugal, fala-se português

 Pedro Lucas Lindoso


Nossa amiga Sonia Campos é emérita moradora de Copacabana. Vera e eu conhecemos Sonia em Brasília. Nascida em Copacabana, retornou para o Rio após se aposentar. E claro que Sonia conhece tia Idalina. Conhecida amazonense em autoexílio no Rio de Janeiro há décadas. São amigas. As duas estão passando uns dias em Portugal.  Recebo notícias de ambas pelo whatsapp. Que coisa fantástica esse aplicativo. Até bem pouco tempo gastava-se uma nota para se comunicar com a família em viagens pelo exterior. Os amigos só tinham notícias no retorno. Quando jovem, passei muitas férias no Rio de Janeiro. Lembro-me que titia convocava todo mundo para assistir sessões de “slides” no seu apartamento. Sempre que retornava de suas viagens.

Aquilo era um tédio. Ninguém ousava falar nada. “Olha eu às margens do Sena”. Dizia ela. Em Roma, na Fontana de Trevi. E sempre lembrava que tinha jogado moedas de cruzeiros na tal fonte dos desejos. E poupado suas liras. Imagina, antes do euro! E que ainda tinha francos. Que voltaria a Paris. E mostrava ainda os “slides” em Lisboa. Em frente à Torre de Belém e nos Jerônimos. Aquilo era interminável. E que Portugal valia a pena. Que se trocava dólares por escudos. E etc e tal. Os jovens de hoje não sabem o que são “slides”, nem francos ou escudos. Muito menos liras. Só o instrumento. Hoje, recebe-se fotos via whatsapp.  É mais divertido e menos monótono do que ver dezenas de “slides”.

Sonia e Idalina foram ao Algarve. Visitaram um parque onde havia oliveiras milenares. Tiraram foto de uma oliveira de aproximadamente 2850 anos. Pois é. Segundo um amigo historiador, já se comia jaraqui por aqui na Amazônia há 3 mil anos atrás. Mas acho que não tem uma sumaúma dessa idade.

Idalina admirou-se que, no Aeroporto de Lisboa, as malas são colocadas em “tapetes” e não em esteiras. As diferenças entre o Português do Brasil e de Portugal são tantas que ela resolveu pedir informações em Inglês. Levou uma bronca. Falamos o mesmo idioma, minha senhora. Ora, pois, pois. Fale o Português, “faz favoire”.

As tais oliveiras milenares foram certificadas por uma “equipa de investigadores” da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. As árvores medem 569 cm no perímetro médio ao nível do peito e 220 cm de altura. As árvores tem peito, em Portugal!

Sonia fez aniversário no dia 27 de maio. Foram comemorar num restaurante chamado D’Bacalhau. Sonia recebeu um diploma no qual o chef executivo do D’Bacalhau, Júlio Fernandes, atenta que Sônia comemorou seu aniversário por lá. Que a data se repita por muitos e longos anos. Foram os votos de toda a “equipa” do restaurante.

Tia Idalina já foi várias vezes a Portugal. Está cansada de saber que eles chamam suco de sumo. Como ela anda meio surda, não entendeu o garçom. E já foi pedindo “orange juice, please”. Titia não tem jeito. Alguém lembrou-lhe: “Já esqueceu a bronca no aeroporto? Aqui falamos português, minha senhora!”