Amigos do Fingidor

quinta-feira, 27 de junho de 2024

A poesia é necessária?

 

Romance do Banho

Elson Farias

 

Era morena tostada,

forte, esbelta como um cão,

os cabelos eram claros

de saboroso castanho;

longas tiras escorriam

na costa vincada em curvas

– eram cobras encravadas

no dorso de uma raiz;

o calcanhar era firme,

seu andar arroliçado,

as ilhargas mal roçavam

nas pregas da saia fina.

 

                *

Fendeu-se o cerrado verde

de patativas e anus,

filhos de caba, sol quente,

ventos gerais, água e mel;

ela vinha – balde, cuia,

dentes expostos, carnudos

os lábios, flor de papoula

a cantar e a se despir.

 

                 *

Ela vinha, mas menino

balador de passarinhos,

não sabia descobri-la;

pressentia apenas vagos

sons das patas elegantes

dos poldros do meu instinto,

rachando cones de pedra

no meu raciocínio mole.

 

                  *

Ela esfalfou-se nas águas,

misturou-se com os peixes,

camarões a beliscaram,

escamas, pés, gumes virgens;

o relampejo das palmas

como línguas de uma faca;

a sombra escura no fundo,

as coxas alvas e turvas;

peixes, menina de banho,

anáguas brancas ao sol.