Amigos do Fingidor

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Presente de casamento

 Pedro Lucas Lindoso

 

Hoje em dia transfere-se dinheiro para outra pessoa num piscar de olhos. Pelo pix, é claro. Antigamente, até mesmo as transferências on-line levavam algum tempo.  Antes da internet precisávamos ir a uma agência bancária para se mandar dinheiro a alguém.

Meu saudoso querido tio Moisés era padre secular. Morava no Recife. Meu pai mandava sempre uma mesada para ele. Padres seculares ou diocesanos não são vinculados a ordens religiosas, como os salesianos, dominicanos e franciscanos, dentre outras. Alguns trabalham. Outros a Diocese ou Arquidiocese os sustentam. Geralmente precisam de uma ajudinha, como meu querido tio.

Para mandar sua mesada precisávamos ir ao banco. Havia três opções de transferências. Por telex, por telefone ou carta via malote. Essa última tinha a taxa mais barata. Mas demorava até três dias. Por telex poderia chegar no mesmo dia, dependendo do horário. Por telefone era garantido chegar no dia. Mas a taxa era a mais cara. Chamavam-se “orpag”, ou seja, ordem de pagamento.

Tio Moisés era um homem extremamente humanista. Um padre compromissado com o social. Preocupava-se com os menos favorecidos. Aqui em Manaus, nos anos de 1960 liderou a Ação Católica (ACB). Trabalhou principalmente com jovens nos JEC’s. Juventude Estudantil Católica.

A ACB foi um movimento da Igreja Católica com o objetivo de formar leigos para colaborar com a missão da Igreja.

Tio Moisés era muito inteligente. Falava Francês. Esteve no Quebec. Parte de maior influência francesa do Canadá.

Morou muitos anos no Recife onde faleceu já bem idoso. Foi auxiliar de Dom Helder e um padre que quebrou. paradigmas. Houve um tempo que suicidas não tinham direito a missa de sétimo dia. Ele as rezava. Felizmente essa proibição não existe mais.

Há alguns dias conversei on-line com o padre Joao Carlos, do Recife. Ele conheceu tio Moisés. O tio foi padre diocesano por muitos anos numa usina em Jaboatão dos Guararapes. Era muito respeitado e querido na comunidade.

Tio Moisés celebrou nosso casamento em Brasília em 1981. Meu pai mandou buscá-lo em Pernambuco. Para Vera e eu, o nosso melhor presente de casamento.