Amigos do Fingidor

quinta-feira, 6 de março de 2025

A poesia é necessária?

 

O estupro

Dani Colares

 

Numa rua deserta

De uma hora qualquer

Abriram o meu peito

E estupraram o meu coração

 

Amassaram-no, pisaram-no

Foderam sem piedade

Eu gritava e ninguém ouvia

E enquanto me segurava,

Eu implorava para que o arrancasse de uma vez

 

Cuspiu-me na cara

As lágrimas formaram crateras em meu rosto

E buracos no chão

Eu carregava a dor que asfixia,

que se materializa, aprisiona,

vomita, grita e implora

A dor que provoca a inércia de morte

 

Meu rosto, transfigurado de dor

Se contentava a olhar o nada

Fiquei ali, nua na rua imunda

Sem dignidade, força ou identidade

Vendo meus sentimentos jogados

Por todos os lados no asfalto

 

E assim, de peito aberto

Com saliva, sangue e sêmen

Levantei-me

Metade vivo, metade morto.

E o bandido? Solto.