O estupro
Dani Colares
Numa rua deserta
De uma hora qualquer
Abriram o meu peito
E estupraram o meu coração
Amassaram-no, pisaram-no
Foderam sem piedade
Eu gritava e ninguém ouvia
E enquanto me segurava,
Eu implorava para que o arrancasse de uma vez
Cuspiu-me na cara
As lágrimas formaram crateras em meu rosto
E buracos no chão
Eu carregava a dor que asfixia,
que se materializa, aprisiona,
vomita, grita e implora
A dor que provoca a inércia de morte
Meu rosto, transfigurado de dor
Se contentava a olhar o nada
Fiquei ali, nua na rua imunda
Sem dignidade, força ou identidade
Vendo meus sentimentos jogados
Por todos os lados no asfalto
E assim, de peito aberto
Com saliva, sangue e sêmen
Levantei-me
Metade vivo, metade morto.
E o bandido? Solto.