Pedro Lucas Lindoso
Quando eu era menino morava na
Rua Henrique Martins, no Centro de Manaus. Vez por outra, era mandado comprar
alguma coisa necessária na cozinha ou aviamento para costuras. Havia a
mercearia do Seu Malaquias, no canto com a Rua Rui Barbosa. Na outra esquina,
com a Rua Barroso, tinha o Seu Pinto. Em geral ouvia a seguinte recomendação de
minha mãe:
– Traga o troco.
Isso significava que eu não
poderia comprar nem bombom nem bola de gude, nem tampouco tomar um guaraná ou
fazer qualquer outro gasto. Apropriar-me do troco seria falta grave e motivo de
ficar de castigo.
Desde que a Prefeitura
reajustou a passagem de ônibus para R$3,80, há polêmica entre usuários de
ônibus e trocadores. Parece que falta moeda na cidade de Manaus.
Estive nos Estados Unidos
recentemente. Em uma compra de $4,11 dei uma nota de $5,00 e recebi exatos $0,89
centavos de troco. Lá é assim. Não falta moeda. E as moedas têm nome. Um
centavo chama-se “penny”; cinco centavos, “nickle”; dez centavos, “dime”, e
vinte e cinco centavos, “quarter”. Uso sempre um porta-moedas para guardá-las. Deve-se
economizar em reais, quanto mais em dólares.
Antes de ir para o aeroporto,
de volta para o Brasil, estive numa farmácia para usar as moedas americanas.
Havia quase seis dólares em moedas. Ainda ficaram $0,48 centavos de dólares.
Quatro “dimes” e oito “penny” no meu porta moedas. No aeroporto fizemos um
lanche que custou $10,10. O troco de R$11,00 foram exatos noventa centavos de
dólares. Somados aos $0,48 que estavam no porta-moedas, eu entrei no avião com
$1,38 em moedas americanas.
Antes de pousar em Manaus, um
anúncio da American Airlines convidava os passageiros a doar seu troco para a
UNICEF. Um comissário passou recolhendo as doações. As minhas moedas
juntaram-se a outros trocos e somaram-se a milhares de dólares anualmente
destinados a projetos da UNICEF. Trata-se de órgão das Nações Unidas com
atuação junto a crianças em vários países, inclusive no Brasil. Achei que devia
doar o meu troco de $1,38. Essas moedas de trocas iriam se perder nas minhas
gavetas. Junto a outros troços. Lembrei-me de minha mãe. Não fiquei com o
troco. Não gastei o troco e nem trouxe o troco!
Em Portugal usa-se a palavra
troco no plural. Trocos. Pronuncia-se com “o” aberto, como em trocas e troços.