Amigos do Fingidor

terça-feira, 9 de maio de 2017

Como em trocas e troços



Pedro Lucas Lindoso

Quando eu era menino morava na Rua Henrique Martins, no Centro de Manaus. Vez por outra, era mandado comprar alguma coisa necessária na cozinha ou aviamento para costuras. Havia a mercearia do Seu Malaquias, no canto com a Rua Rui Barbosa. Na outra esquina, com a Rua Barroso, tinha o Seu Pinto. Em geral ouvia a seguinte recomendação de minha mãe:
– Traga o troco.
Isso significava que eu não poderia comprar nem bombom nem bola de gude, nem tampouco tomar um guaraná ou fazer qualquer outro gasto. Apropriar-me do troco seria falta grave e motivo de ficar de castigo.
Desde que a Prefeitura reajustou a passagem de ônibus para R$3,80, há polêmica entre usuários de ônibus e trocadores. Parece que falta moeda na cidade de Manaus.
Estive nos Estados Unidos recentemente. Em uma compra de $4,11 dei uma nota de $5,00 e recebi exatos $0,89 centavos de troco. Lá é assim. Não falta moeda. E as moedas têm nome. Um centavo chama-se “penny”; cinco centavos, “nickle”; dez centavos, “dime”, e vinte e cinco centavos, “quarter”. Uso sempre um porta-moedas para guardá-las. Deve-se economizar em reais, quanto mais em dólares.
Antes de ir para o aeroporto, de volta para o Brasil, estive numa farmácia para usar as moedas americanas. Havia quase seis dólares em moedas. Ainda ficaram $0,48 centavos de dólares. Quatro “dimes” e oito “penny” no meu porta moedas. No aeroporto fizemos um lanche que custou $10,10. O troco de R$11,00 foram exatos noventa centavos de dólares. Somados aos $0,48 que estavam no porta-moedas, eu entrei no avião com $1,38 em moedas americanas.
Antes de pousar em Manaus, um anúncio da American Airlines convidava os passageiros a doar seu troco para a UNICEF. Um comissário passou recolhendo as doações. As minhas moedas juntaram-se a outros trocos e somaram-se a milhares de dólares anualmente destinados a projetos da UNICEF. Trata-se de órgão das Nações Unidas com atuação junto a crianças em vários países, inclusive no Brasil. Achei que devia doar o meu troco de $1,38. Essas moedas de trocas iriam se perder nas minhas gavetas. Junto a outros troços. Lembrei-me de minha mãe. Não fiquei com o troco. Não gastei o troco e nem trouxe o troco!

Em Portugal usa-se a palavra troco no plural. Trocos. Pronuncia-se com “o” aberto, como em trocas e troços.