Zemaria Pinto
As horas passam como cães
na noite
sobre o meu corpo de
ervas verticais,
mesclando sons, ruídos
ancestrais
ao silêncio do quarto. O
forte açoite
do vento prenuncia a
tempestade.
Relâmpagos inventam
sombras tortas
nas paredes de formas
natimortas:
uma forca, um punhal, uma
deidade
pagã. Em meu peito um
animal freme,
se agita, as mãos
crispadas sobre o torso
nu, já não fala,
balbucia, geme.
Buscando sonhos numa
busca vã,
meu corpo explode em
derradeiro esforço,
nos murmúrios convulsos
da manhã.