João Bosco Botelho
O encantamento pela astrologia como prática divinatória consolidou-se
nos primeiros núcleos urbanos, em torno de quatro mil anos atrás.
As práticas divinatórias astrológicas continuam mantendo
relações próximas com as antigas crenças e ideias religiosas estruturadas na
Mesopotâmia.
Os vestígios dessa interessante dependência entre as pessoas
e os astros reconhecíveis no céu estrelado podem ser rastreados em alguns
registros da escrita cuneiforme. O sinal gráfico correspondente ao divino ─
elemento incomensurável e todo-poderoso do passado e do futuro ─ é o mesmo que
designa a palavra estrela. Os deuses babilônicos Schamasch, Sin e Ischtar eram
os guardiões do céu sob a forma do Sol, da Lua e do planeta Vênus, os três astros
mais destacados do firmamento.
Assim, a força da
astrologia na modernidade não deveria causar tanta admiração. A fé no poder dos
astros determinando o destino das pessoas e do mundo é tão antiga quanto as
primeiras aglomerações urbanas.
Algumas palavras atuais estão repletas de significado
astrológico. O prefixo latino menstruus,
que originou menstruação, está ligado ao processo repetitivo de vinte e oito
dias do mês lunar.
Apesar das adaptações
adquiridas também com os novos saberes sobre os elementos visíveis no
firmamento, a astrologia divinatória conservou a primitiva estrutura de
sedução: utiliza a adivinhação dedutiva, a partir da interpretação do movimento
astral.
Os médicos medievais,
entre os séculos 8 e 11, criaram situações bizarras ao utilizarem a concepção
neoplatônica de similitude entre o macrocosmo e o microcosmo, construindo
extremados prognósticos astrológicos. Nesse período, predominava a certeza de
que a saúde, a doença, a boa sorte, o azar, a sexualidade e a procriação
estavam sob a decisiva influência dos astros.