Pedro Lucas Lindoso
Os jornais e a televisão do sudeste falam do início da
primavera e convidam os brasileiros a plantar árvores. Só que o dia da árvore
na Amazônia é 21 de março. Plantar árvores em setembro aqui na região é
inadequado. Mas muita gente não sabe disso.
Marcílio de Freitas e Marilene Corrêa são doutores
pesquisadores sobre a Amazônia. Ambos lançaram recentemente importantes
trabalhos sobre a Amazônia no IGHA – Instituto Geográfico e Histórico do
Amazonas, onde somos confrades.
Eles criticam o fato de que “os mecanismos operacionais da
economia global(...) propugnam a prevalência do pensamento único, dificultando
a construção de soluções compartilhadas” (A
Sustentabilidade como paradigma. Editora Vozes, pág. 65).
Nós, amazônidas, não podemos agir nem pensar com unicidade
com o resto do país. Exemplifico: as grande férias escolares nos meses de
dezembro e janeiro são inadequadas para a Região Amazônica. É verão no sudeste
e lá a diversão é garantida. Com muita praia e sol. Americanos e europeus
frequentam as escolas em janeiro. Faz frio e neva por lá. Aqui o clima fica
mais ameno e chove. E muito. Não há praias em nossos rios, que estão na cheia.
Por que tirar férias nessa época?
A professora Marilene nos alerta que “a manutenção da ordem
nacional justificou a exclusão dos direitos de autodeterminação dos povos
amazônicos(...); permitiu que a ambição dos interesses administrassem, a seu
modo, a vida e a sociedade regional” (Amazônia,
passado, presente e futuro. Editora Juruá, pág.21).
Aos cronistas e ficcionistas cabe opinar, falar, comentar e
até inventar. Aos pesquisadores, a cientificidade! Aos cronistas, o eventual
deboche!
O grande escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues dizia que nós
brasileiros temos complexo de vira-latas e explicava: “a inferioridade em que o
brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.
Parece que nós aqui na Amazônia temos o complexo de
macaco-prego. Somos inteligentes e muito espertos. O macaco-prego é o gênio da
selva. Mas vive no topo das árvores, onde passa a maior parte do tempo. Só desce
ao chão para beber água ou para comer.
Precisamos nos unir e lutar pelos nossos interesses. Vamos
descer do topo das árvores para reivindicar direitos e exigir respeito.