Amigos do Fingidor

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Complexo de macaco-prego


Pedro Lucas Lindoso


Os jornais e a televisão do sudeste falam do início da primavera e convidam os brasileiros a plantar árvores. Só que o dia da árvore na Amazônia é 21 de março. Plantar árvores em setembro aqui na região é inadequado. Mas muita gente não sabe disso.
Marcílio de Freitas e Marilene Corrêa são doutores pesquisadores sobre a Amazônia. Ambos lançaram recentemente importantes trabalhos sobre a Amazônia no IGHA – Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, onde somos confrades.
Eles criticam o fato de que “os mecanismos operacionais da economia global(...) propugnam a prevalência do pensamento único, dificultando a construção de soluções compartilhadas” (A Sustentabilidade como paradigma. Editora Vozes, pág. 65).
Nós, amazônidas, não podemos agir nem pensar com unicidade com o resto do país. Exemplifico: as grande férias escolares nos meses de dezembro e janeiro são inadequadas para a Região Amazônica. É verão no sudeste e lá a diversão é garantida. Com muita praia e sol. Americanos e europeus frequentam as escolas em janeiro. Faz frio e neva por lá. Aqui o clima fica mais ameno e chove. E muito. Não há praias em nossos rios, que estão na cheia. Por que tirar férias nessa época?
A professora Marilene nos alerta que “a manutenção da ordem nacional justificou a exclusão dos direitos de autodeterminação dos povos amazônicos(...); permitiu que a ambição dos interesses administrassem, a seu modo, a vida e a sociedade regional” (Amazônia, passado, presente e futuro. Editora Juruá, pág.21).
Aos cronistas e ficcionistas cabe opinar, falar, comentar e até inventar. Aos pesquisadores, a cientificidade! Aos cronistas, o eventual deboche!
O grande escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues dizia que nós brasileiros temos complexo de vira-latas e explicava: “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.
Parece que nós aqui na Amazônia temos o complexo de macaco-prego. Somos inteligentes e muito espertos. O macaco-prego é o gênio da selva. Mas vive no topo das árvores, onde passa a maior parte do tempo. Só desce ao chão para beber água ou para comer.
Precisamos nos unir e lutar pelos nossos interesses. Vamos descer do topo das árvores para reivindicar direitos e exigir respeito.