Amigos do Fingidor

terça-feira, 30 de julho de 2019

Schadenfreude



Pedro Lucas Lindoso


Schadenfreude é um termo alemão que não tem um correspondente preciso em Português. Significa a satisfação de alguém com o infortúnio alheio. Não deixa de ser um prazer perverso.
Não sou grande conhecedor do idioma alemão. Segundo um amigo brasiliense que visita Munique com frequência, a palavra “schaden” quer dizer “dano, prejuízo” e “freude” significa “alegria, prazer”.
Explicou-me ainda que existe a schadenfreude discreta. É quando esse sentimento, de certa forma ruim e malvado, restringe-se ao foro íntimo e pessoal. Já a schadenfreude pública é compreendida como aquele em que o sujeito se expressa abertamente.
Parece que nós brasileiros estamos vendo isso com certa frequência. Há muita gente demostrando escárnio, ironia ou sarcasmo perante a desventura sofrida por um terceiro.
Ouve-se com muita frequência alguém dizer “bem feito”. “Bem merecido”.
Há um provérbio que diz que “a vingança é um prato que se come frio”. Penso que é uma situação um pouco distinta do sentimento de “schadenfreude”. Parece-me que neste caso não há, por parte de quem expressa tal sentimento, a necessidade de se vingar, mas o prazer no infortúnio do outro.
Conversando sobre o assunto com meu amigo Dr. Chaguinhas, ele me disse que a vingança não é um prato que se come frio. Ao contrário, e me explica:
– Não entendo a vingança como um prato que se come frio. Para mim a vingança também não tem gosto de prato requentado. A vingança é para ser sorvida como um delicioso vinho. Servida na melhor taça de cristal da Boêmia. Vinho para ser engarrafado na data do desafeto. A ser guardado em nossa adega de rancores. E quando chegar o grande dia, o dia da desgraça alheia, estouramos a rolha. E, obviamente, antes de beber, podemos nos banhar com parte do vinho, lavando a alma.   
Discordo do meu amigo Chaguinhas. Como cristãos, devemos exercer o perdão. Mas às vezes é difícil esquecer.  Os franceses dizem: “Pardonner on pardonne, mais oublier jamais”. Realmente, perdoar se perdoa, mas esquecer é impossível. Quanto ao “schadenfreude”, só mesmo o povo alemão para criar uma palavra com essa precisão linguística.