Pedro
Lucas Lindoso
Schadenfreude é um termo alemão que não tem um
correspondente preciso em Português. Significa a satisfação de alguém com o
infortúnio alheio. Não deixa de ser um prazer perverso.
Não
sou grande conhecedor do idioma alemão. Segundo um amigo brasiliense que visita
Munique com frequência, a palavra “schaden” quer dizer “dano, prejuízo” e “freude”
significa “alegria, prazer”.
Explicou-me
ainda que existe a schadenfreude discreta. É quando esse sentimento, de
certa forma ruim e malvado, restringe-se ao foro íntimo e pessoal. Já a schadenfreude
pública é compreendida como aquele em que o sujeito se expressa abertamente.
Parece
que nós brasileiros estamos vendo isso com certa frequência. Há muita gente
demostrando escárnio, ironia ou sarcasmo perante a desventura sofrida por um
terceiro.
Ouve-se
com muita frequência alguém dizer “bem feito”. “Bem merecido”.
Há
um provérbio que diz que “a vingança é um prato que se come frio”. Penso que é
uma situação um pouco distinta do sentimento de “schadenfreude”. Parece-me que
neste caso não há, por parte de quem expressa tal sentimento, a necessidade de
se vingar, mas o prazer no infortúnio do outro.
Conversando
sobre o assunto com meu amigo Dr. Chaguinhas, ele me disse que a vingança não é
um prato que se come frio. Ao contrário, e me explica:
–
Não entendo a vingança como um prato que se come frio. Para mim a vingança
também não tem gosto de prato requentado. A vingança é para ser sorvida como um
delicioso vinho. Servida na melhor taça de cristal da Boêmia. Vinho para ser
engarrafado na data do desafeto. A ser guardado em nossa adega de rancores. E
quando chegar o grande dia, o dia da desgraça alheia, estouramos a rolha. E,
obviamente, antes de beber, podemos nos banhar com parte do vinho, lavando a
alma.
Discordo
do meu amigo Chaguinhas. Como cristãos, devemos exercer o perdão. Mas às vezes
é difícil esquecer. Os franceses dizem:
“Pardonner on pardonne, mais oublier jamais”. Realmente, perdoar se perdoa, mas
esquecer é impossível. Quanto ao “schadenfreude”, só mesmo o povo alemão para
criar uma palavra com essa precisão linguística.