Pedro Lucas Lindoso
Sou amazonense. Nasci em Manaus. Na idade de dez anos fui
levado a morar em Brasília. De início, detestei aquela cidade poeirenta e em
construção. Cheia de vazios e de clima seco e árido. Com chuvinha fina e
friorenta. Imprestável para banhos de chuva. Sentia falta da rua Henrique
Martins, das atividades no SESC e da casa de minha avó.
Depois me apaixonei por Brasília. A cidade se tornou um
parque urbano. Com árvores e jardins entre os prédios das superquadras. E com
os anos colecionamos afetos, amizades e conquistas. Foi em Brasília onde
estudei e realizei grande parte de minha trajetória profissional. Casei-me em
Brasília e lá nasceram meus filhos.
Há três lustros retornei a Manaus. De repente, me
apresentaram uma oportunidade profissional que me traria de volta a essa
encantadora cidade onde eu havia nascido. E que estava guardada no coração e na
memória. Assim, realizei um projeto de menino que estava totalmente esquecido.
As pessoas costumam me perguntar qual a minha cidade
preferida. O maestro Tom Jobim viveu muitos anos entre Nova Iorque e o Rio de
Janeiro. Diante de tal pergunta dizia que Nova Iorque era muito bacana, mas uma
porcaria. E o Rio era uma porcaria, mas muito bacana. Não foram bem essas
palavras. Mas foi algo assim e mais palatável para publicações. E eu vou na
onda.
Brasília é muito bacana, mas uma porcaria. Manaus é uma
porcaria, mas é muito, muito bacana. O pior defeito de Brasília é a dificuldade
em se comprar farinha do Uarini e pimenta murupi. O pior defeito de Manaus é
não ter um grande parque urbano, como o maravilhoso Parque da Cidade, o
“Central Park” dos brasilienses.
Ambas as duas (Eça de Queiroz escrevia assim) são cidades
mágicas e com lembranças muito gratas a mim e aos meus familiares. Como dizem
os franceses, “entre les deux, mon coer balance”.
Outro dia me fizeram outra pergunta inusitada, que me fez
meditar e escrever esta crônica. Se eu prefiro ser enterrado no Cemitério de
São João Batista, em Manaus. Ou se fico com a opção de ir para o Campo da
Esperança, em Brasília. É lá onde estão enterrados meus pais.
Ora, a cremação é sempre uma opção moderna. E mais higiênica
em termos ambientais.
Mas eu quero mesmo é ficar vivo e viajar pelo mundo.
Inclusive viajar para Brasília.