Pedro Lucas Lindoso
Tia Idalina me encomendou tucupi, jambu e goma. Levei o
desejado líquido em duas garrafas pet e o jambu congelado. A alegria de titia
vale a pena aos atropelos de levar tais iguarias em meio à bagagem despachada.
Nada mais inusitado do que um tacacá na casa de tia Idalina,
em Copacabana. Só havia seis cuias. Uma senhorinha carioca queria tomar tacacá
num prato fundo. Com colher. Tia Idalina protestou:
– Não temos pressa. As pessoas vão tomando e eu vou lavando
as cuias. Ora, até as mais famosas tacacazeiras de Manaus fazem assim.
De repente, chega Tina, sobrinha de Idalina, com um rapaz
bonitão e forte. De barba cerrada. A moça apresentou-o como seu “crush”.
-Interessante, disse Idalina. “Crush” era um refrigerante de
sabor laranja, que não fabricam mais. Agora significa namorado. Gosto de saber
essas novas gírias. Mas não para usá-las. Jamais. E aconselho:
– Depois dos 50 anos não devemos usar gírias. Se não cair no
ridículo denuncia a idade. Veja o Luisinho, fica falando gírias dos anos
sessenta, como “É uma brasa, mora”. E chama os colegas de bicho! Ele e o
Roberto Carlos.
– Então “crush” é a nova palavra para paquera. Há poucos anos
usavam com frequência a palavra “ficante”. A moçada ficava. Fulana ficava com
beltrano. Também está muito na moda a palavra namorido. Obviamente mistura de
namorado com marido.
Alguém pergunta à titia como se dizia “crush” na sua época. A
resposta foi hilária:
– Cacho. Dizia-se que fulana era cacho de fulano. Bem
ofensivo, por sinal. Usava-se muito a palavra saçaricar. No sentido de
saracotear e fazer gracejos.
O papo corria animado e todos se divertiram muito. No final a
titia serviu uma deliciosa torta de banana pacovã. Só com suspiro. Sem creme. E
perguntou:
– Então, gostaram do meu tacacá amazônico?
Tina foi logo dizendo:
- LACROU! Tia Idalina. É a nova gíria para arrasar. Era usada
só pelo pessoal LGBT, mas todo mundo adotou agora.
– Gostei. No meu tempo se dizia abafar. Estou lacrando!