Romance da noite-chuva
Elson
Farias
Tremia o
trovão na terra.
Talhavam a
face torva
gota a
gota os seringais,
era o deus
que era raivoso
e vinha
nos temporais.
Bramia o
rumor do rio
nas noites
de escuro e chuvas,
caía a
faixa da terra,
piavam
surdo as corujas.
Um noturno
canto-pranto
cortava o
céu em dois meios,
nosso deus
vinha vestido
de nós e
os nossos receios.
*
– Minha
mãe, onde é que eu acho
a
lamparina da noite?
– Meu
filho, ela deve estar
pendurada
lá no alpendre.
– Minha
mãe, por que a coruja
pia agora
sem parar?
– Meu
filho, certo que existe
um defunto
a amortalhar.
– Quero
dormir, minha mãe,
dentro das
trevas desta hora,
mas não
posso me embrulhar,
o meu
lençol me apavora.
– Meu
filho, dorme, não chora,
que o dia
custa a vir,
reza as
três ave-marias,
muda a
roupa e vai dormir.
*
A terra
tremia toda.