Pedro
Lucas Lindoso
Época
de Natal e final de ano. Muitas pessoas viajando para passar as festas em
família. É possível que mais da metade da população manauara não tenha nascido
na cidade. Muitos são do interior do estado. Há milhares que são brasileiros de
outras unidades da federação. Além dos muitos estrangeiros.
Boa
parte desse pessoal sai da cidade por via aérea. Mas há muitos amazonenses que
vão visitar seus parentes no interior do estado viajando nos famosos barcos
chamados de motor de linha. Viajar de “motor” precisa ser caboclo raiz. Os
barcos levam horas e até dias para chegar ao destino. Além de gostar de
“bolacha de motor”, o caboclo tem que ter know-how em viagens pelos
nossos rios.
Tenho
um amigo, o qual chamarei de Messias, para evitar constrangimentos. Pois bem,
quando jovem, o repórter Messias foi escalado para cobrir o Festival de
Parintins. Recebeu um “voucher” do jornal. Viajaria num “motor de linha”. Era
sua chance de deslanchar na carreira de repórter. O barco sairia às seis horas
de Manaus com destino a Ilha Tupinambarana. Messias chega para embarcar por
volta das cinco e meia. Entra no barco, achando que era o mesmo sistema de
avião de carreira e pergunta:
– Qual
o número de minha rede?
O
comandante, um prático que havia sido fuzileiro naval e agora era armador, mas
não de redes, estranhando a pergunta, respondeu logo:
– Tu
não tens rede? Messias assustado, respondeu:
–
Pensei que vocês forneciam. Então vou correndo comprar uma.
– Não
vai dar tempo, o barco sai daqui a quinze minutos.
Messias
pensou rápido e resolveu ficar. Mesmo sem rede. Não poderia perder aquela
oportunidade profissional. Cobrir o festival. Se não fosse, o que diria na
redação? Que explicação daria para o editor chefe do jornal? Não havia mais
vaga em nenhum outro barco. Era ir ou ir. E ele foi.
Para
relaxar foi logo para o bar do “motor” tomar uma cervejinha. O fotógrafo que o
acompanhava não parava de rir do pobre Messias. Sentia muito, mas não iria
dividir a rede com ele. Nem Messias queria. Ambos grandes e fortes, Messias era
recém casado. Tinha uma esposa linda. Mesmo assim se engraçou por uma
caboquinha com olhar assustado e de peixe morto. Resolveu pagar uma cerveja
para ela. E engataram um namoro de viagem.
Ao
chegar em Parintins, o fotógrafo foi logo comentando.
– Rapaz,
tu arrumaste uma caboquinha bem feia, mano velho.
– Feia,
mas tinha rede, retrucou Messias.
Atenção,
se você for viajar de motor de linha neste final de ano, não esqueça sua rede.