Amigos do Fingidor

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

70 anos do Clube da Madrugada (texto de abertura e vídeo)

 Zemaria Pinto


Fundado em 22 de novembro de 1954, mas amadurecido desde cinco anos antes, o Clube da Madrugada germinou da resistência de uma geração, nascida na segunda metade dos anos 1920 e primeira metade dos anos 1930, ao marasmo governamental, que nada de interessante oferecia aos jovens que concluíam os estudos médios, a não ser o curso de Direito. Restava a esses jovens os caminhos do porto e do aeroporto, rumo ao Brasil.

Um grupo deles chegou a realizar duas viagens pelo país, antes da fundação, para descobrir, num tempo de comunicações precárias, o que acontecia de novo no país. Descobriram, por exemplo, o Modernismo dos anos 20, o romance realista dos anos 30 e a chamada Geração de 45, da qual fazia parte o jovem estudante de medicina Thiago de Mello.

Em 1955, comemorando um ano de fundação, o Clube da Madrugada lançou um manifesto, criticando as artes em geral e o pensamento retrógrado da Academia Amazonense de Letras. O item Literatura, que abre a seção crítica do manifesto, é uma verdadeira bomba: Não há literatura no Amazonas. O resto é história.

Influentes nos 30 anos que se seguiram, além da literatura, o Clube ajudou a plasmar a cultura amazonense como a conhecemos hoje, nas artes plásticas, no cinema e na música, e, principalmente, na maneira de pensar a cultura. 70 anos depois, o Clube mostra seu vigor no interesse que desperta nos jovens por estudar sua gênese e seu desenvolvimento, longe ainda de esgotar esses estudos.    

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para abrir o vídeo no YouTube.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

A poesia é necessária?

 

Círculo vicioso

Machado de Assis (1839-1908)

 

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

– “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,

Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

 

– “Pudesse eu copiar o transparente lume,

Que, da grega coluna à gótica janela,

Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”

Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

 

– “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela

Claridade imortal, que toda a luz resume!”

Mas o sol, inclinando a rútila capela:

 

– “Pesa-me esta brilhante auréola de nume...

Enfara-me esta azul e desmedida umbela...

Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”