Pedro Lucas Lindoso
A
palavra “gönnen”, do alemão, significa “o contrário de invejar”. Ficar contente
pelo outro. Alegrar-se com a conquista do outro. Não temos essa palavra no
português.
O
boto cor-de-rosa e o jacaré do rabo cotó é um livro infantil de minha autoria. O jacaré, de moto
próprio, fica de rabo cotó em consequência de sua inveja. Questionado o porquê
do Brasil não ter Prémio Nobel, um dos jurados explicou que os candidatos são
prejudicados por falta de apoio dos brasileiros. Seríamos nós um povo invejoso?
Há quem
diga que é doloroso fazer sucesso no Brasil. A inveja e o ciúme são sentimentos
básicos bem explorados tanto por Shakespeare quanto pelo nosso grande Machado
de Assis.
Não ter
inveja. Alegrar-se com a conquista do outro. Uma virtude rara. Existe isso? Na
sociedade em que vivemos, a inveja às vezes parece ser uma companheira
constante, silenciosa, quase inevitável. Ela se insinua na esquina do sucesso
alheio, na felicidade que parece brilhar mais forte do que a nossa. É difícil
imaginar alguém completamente livre desse sentimento, tão humano, tão natural,
quase uma sombra que acompanha nossos passos.
Porém,
há quem, mesmo diante do brilho do outro, consiga sorrir de verdade. Essas
pessoas são verdadeiramente raras. Uma virtude quase impossível. Ter alegria
pela conquista do próximo.
Acredito
que não ter inveja não significa negar o próprio desejo de alcançar algo, mas
sim reconhecer que a felicidade alheia não diminui a nossa, pelo contrário, ela
a amplia. Quando nos alegramos com o sucesso do outro, estamos celebrando a
possibilidade de que todos possam ser felizes.
Essa
virtude, infelizmente, parece escassa. Talvez porque a sociedade nos ensine a
competir, a olhar o outro com olhos de cobrança, de comparação. Nos ensinam
desde criança, que devemos nos esforçar para ser o melhor. Ouvi muito dos mais
velhos: ”escolha qualquer profissão. Mas seja o melhor”. É difícil considerar
que a verdadeira força está em apoiar, em reconhecer o esforço do outro, em
sentir-se feliz por ele, como se fosse uma extensão de nossa própria alegria.
Então,
será que existe essa virtude? Talvez. Talvez ela seja um exercício de humildade
e generosidade. Uma prática rara. Mas possivelmente capaz de transformar
relações.
Porque,
no fundo, não é fácil deixar a inveja de lado. Mas vale a pena. Não apenas pelo
bem que faz ao outro, mas pelo bem que faz a nós mesmos. Uma alma leve e livre
do peso da inveja. Enfim, não ser invejoso muita gente consegue, mas ser um “gönnener”,
alegrar-se pela vitória alheia, é raro. No Brasil não temos nem palavra para
isso.