Pedro Lucas Lindoso
Tia
Idalina, como sempre, adora bater um papo via Whatsapp. Eu muitas vezes ligo para titia para saber as
novidades. Ela sempre tem uma opinião sobre fatos, podcasts, notícias de jornal
impresso, programas de TV e outras mídias.
Idalina
assiste a concursos de miss. Disse-lhe que achava esses concursos um tanto démodé.
O charme dos anos sessenta e setenta não existe mais. As moças de hoje ficam
todas muito parecidas, com idade indefinida. Antigamente as misses eram garotas
solteiras, com, no máximo, 24 anos. Hoje há mulheres casadas e algumas quase
balzaquianas, sem querer ser incorreto ou misógino.
Ela
concordou comigo. Mas assiste para ver até onde vai a falta de bom senso e a
ousadia da produção. E o nível de despreparo e cafonice de algumas candidatas.
Então o assunto foi o Concurso de Miss Universo 2025. De acordo com Idalina
este é o mais prestigiado e possivelmente o mais antigo.
Foi no
certame de 1954 que a baiana Martha Rocha ficou em segundo lugar por ter duas
polegadas a mais. Como se sabe, nos Estados Unidos não se usa metro e
centímetros. Ora, uma polegada equivale a 2,54 centímetros. Então Martha Rocha perdeu
por pouco mais que cinco centímetros. Titia me disse que foi na cintura. O
traje típico de Martha Rocha foi, evidentemente, de baiana. Fez sucesso.
O
Amazonas não esquece a sua eterna miss Terezinha Morango. Também ficou em
segundo lugar. O traje típico de Terezinha também foi de baiana. Hoje seria de
cunhã-poranga. Mas naquele longínquo ano de 1957, o traje típico oficial das
brasileiras era de baiana, graças a famosa Carmen Miranda.
Sobre o
assunto traje típico, Idalina me disse que nesse ano a brasileira se superou na
questão de falta de senso, desrespeito, cafonice e quiçá um ato de heresia.
Como assim heresia, perguntei. E ela indignada, estupefata e até certo ponto
nervosa, disparou:
–
Aquela pequena nossa representante teve a audácia de se fantasiar de Nossa
Senhora Aparecida. Quando vi aquilo quase tive um troço. Traje totalmente
inapropriado. A moça errou feio. Em outros tempos poderia ser excomungada. Eu
já vi de tudo nessa vida. Mas esse tipo de heresia é a primeira vez. Não se
brinca nem se desrespeita Nossa Senhora. Vestir-se de Nossa Senhora Aparecida
para desfilar no Miss Universo foi algo inadmissível. Perguntei-lhe onde havia
sido o concurso. Ela me disse que foi em Bangkok na Tailândia. Quem venceu foi
a mexicana. Ora, a brasileira poderia ter ido de baiana! Aquilo não é traje
típico. É traje atípico.