Amigos do Fingidor

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

A poesia é necessária?

 

Prisca Agustoni

 

lendo Bertolt Brecht

em noite de chuva

 

O poeta vive em estado de exílio

– dentro e fora do perímetro

inexato do verso, em perene risco

de infarto

 

– sempre tendo seu inimigo

preso numa coleira

como cão ao seu encalço

 

o poeta carrega sua floresta,

a Schwarzwald da infância

na maleta negra,

junto aos manuscritos,

junto aos poucos objetos:

 

um rádio de seis válvulas,

sua segunda caixa torácica

 

:boca habitada por outros

com a qual respira

e conspira outra fuga

über die Grenze, noch einmal

nach Norden 

 

:Praga, Svendborg, Lidingö

itinerário de uma queda

infinita rumo ao norte

 

a floresta segue ao seu flanco

cada dia mais dura

cada dia mais branca

 

e de lá subir mais, e subindo

in extremis no último vagão

da noite para Vladivostok,

 

o poeta faz da própria vida

seu maior palco, aberto

à práxis e à ira dos cupins