Prisca Agustoni
lendo Bertolt Brecht
em noite de chuva
O poeta vive em estado de exílio
– dentro e fora do perímetro
inexato do verso, em perene risco
de infarto
– sempre tendo seu inimigo
preso numa coleira
como cão ao seu encalço
o poeta carrega sua floresta,
a Schwarzwald da infância
na maleta negra,
junto aos manuscritos,
junto aos poucos objetos:
um rádio de seis válvulas,
sua segunda caixa torácica
:boca habitada por outros
com a qual respira
e conspira outra fuga
über die Grenze, noch einmal
nach Norden
:Praga, Svendborg, Lidingö
itinerário de uma queda
infinita rumo ao norte
a floresta segue ao seu flanco
cada dia mais dura
cada dia mais branca
e de lá subir mais, e subindo
in extremis no último vagão
da noite para Vladivostok,
o poeta faz da própria vida
seu maior palco, aberto
à práxis e à ira dos cupins