Amigos do Fingidor

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Diversidade linguística

Pedro Lucas Lindoso

 

O Brasil é um país continental. A língua oficial é o Português.  Mas há outros idiomas falados por brasileiros. Diversas tribos indígenas espalhadas pelo Brasil conservam seus idiomas nativos. O interessante também é que estados e regiões, além do sotaque característico, há palavras e expressões próprias. Em Minas temos o “uai”. Na Bahia e grande parte do Nordeste usa-se muito “oxente”. No Pará e Amapá é comum a interjeição “égua!”. E “pai d'égua!”.

O paranaense fala muito “dai". Daí. No Amazonas, a corruptela de "tu és leso" virou “teleso”. “Bá!” “Tche!”. Exclamam os gaúchos. “É capaz”, responde o catarinense. Esses são poucos exemplos, a diversidade é grande.

O Brasil não é apenas extensão de mapa. O país é um mosaico de vozes. Cada região carrega um timbre próprio, que revela memórias, calor humano e formas distintas de perceber o mundo.

Em Minas, o “uai” não é apenas uma palavra, é um ritmo de esperar, duvidar e, principalmente, de exercer aquilo que os mineiros chamam de mineiridade.

Para o nordestino raiz, o “oxente” acena como um alarme suave: é quando a surpresa se encontra com a resistência. Oxente não é dúvida só: é celebração da persistência, é rir do tropeço enquanto se segue em frente.

Na nossa Amazônia, a fé na palavra é tão forte quanto o rio. Interjeições como “égua” e “pai d'égua” atravessam a conversa como flechas de humor, lembrando que a expressão pode ser ferramenta de afeto, de provocação ou de proteção.

No Paraná, se diz “dai” quase como um abrir de portas E também de fechá-las, daí. Então, vamos além do imediato, daí. Quando a fala se abre o caminho. Entre araucárias, rios, e entre nuvens de terra e memória. Daí, dando ênfase ao final de frases.

Enquanto aqui no nosso Amazonas, o falar ganha o som da floresta: tu és leso se transforma em “teleso”; “tu é doido”. Reflete o espanto ou indignação. Coisas que perduram na garganta dos amazonenses. No nosso Amazonas, as palavras escapam e se entrelaçam na riqueza de uma diversidade linguística própria. Como é nossa diversidade de frutas e plantas. Entre samaúmas e cipós.  E como o vento que bate nas sapopemas, carregando histórias de quem vive nos beiradões dos rios ou na Manaus urbana de todas as gentes e cores.

O gaúcho exclama palavras e expressões, como quem monta a frase sob o céu aberto. O paulista costura a vida com palavras e gírias de megalópole. Enquanto os cariocas exportam e amplificam o português gostoso das novelas.

Essas expressões não são apenas curiosidades. São redes de memória, identidade e pertencimento. A língua é um mapa de gente, que nos mostra que no Brasil não existe um falar único. Mas uma sinfonia de vozes que se conversam, às vezes se desafiam, mas quase sempre se reconhecem como parte do mesmo chão. Que possamos ouvir mais, rir mais, aprender com o outro sem perder o próprio timbre. Porque é na convivência entre sotaques que o país revela sua riqueza: não apenas no que dizemos, mas no modo como dizemos.