Pedro Lucas Lindoso
O
Brasil é um país continental. A língua oficial é o Português. Mas há outros idiomas falados por
brasileiros. Diversas tribos indígenas espalhadas pelo Brasil conservam seus
idiomas nativos. O interessante também é que estados e regiões, além do sotaque
característico, há palavras e expressões próprias. Em Minas temos o “uai”. Na
Bahia e grande parte do Nordeste usa-se muito “oxente”. No Pará e Amapá é comum
a interjeição “égua!”. E “pai d'égua!”.
O
paranaense fala muito “dai". Daí. No Amazonas, a corruptela de "tu és
leso" virou “teleso”. “Bá!” “Tche!”. Exclamam os gaúchos. “É capaz”,
responde o catarinense. Esses são poucos exemplos, a diversidade é grande.
O
Brasil não é apenas extensão de mapa. O país é um mosaico de vozes. Cada região
carrega um timbre próprio, que revela memórias, calor humano e formas distintas
de perceber o mundo.
Em
Minas, o “uai” não é apenas uma palavra, é um ritmo de esperar, duvidar e,
principalmente, de exercer aquilo que os mineiros chamam de mineiridade.
Para o
nordestino raiz, o “oxente” acena como um alarme suave: é quando a surpresa se
encontra com a resistência. Oxente não é dúvida só: é celebração da
persistência, é rir do tropeço enquanto se segue em frente.
Na
nossa Amazônia, a fé na palavra é tão forte quanto o rio. Interjeições como “égua”
e “pai d'égua” atravessam a conversa como flechas de humor, lembrando que a
expressão pode ser ferramenta de afeto, de provocação ou de proteção.
No
Paraná, se diz “dai” quase como um abrir de portas E também de fechá-las, daí.
Então, vamos além do imediato, daí. Quando a fala se abre o caminho. Entre
araucárias, rios, e entre nuvens de terra e memória. Daí, dando ênfase ao final
de frases.
Enquanto
aqui no nosso Amazonas, o falar ganha o som da floresta: tu és leso se
transforma em “teleso”; “tu é doido”. Reflete o espanto ou indignação. Coisas
que perduram na garganta dos amazonenses. No nosso Amazonas, as palavras
escapam e se entrelaçam na riqueza de uma diversidade linguística própria. Como
é nossa diversidade de frutas e plantas. Entre samaúmas e cipós. E como o vento que bate nas sapopemas,
carregando histórias de quem vive nos beiradões dos rios ou na Manaus urbana de
todas as gentes e cores.
O
gaúcho exclama palavras e expressões, como quem monta a frase sob o céu aberto.
O paulista costura a vida com palavras e gírias de megalópole. Enquanto os
cariocas exportam e amplificam o português gostoso das novelas.
Essas
expressões não são apenas curiosidades. São redes de memória, identidade e
pertencimento. A língua é um mapa de gente, que nos mostra que no Brasil não
existe um falar único. Mas uma sinfonia de vozes que se conversam, às vezes se
desafiam, mas quase sempre se reconhecem como parte do mesmo chão. Que possamos
ouvir mais, rir mais, aprender com o outro sem perder o próprio timbre. Porque
é na convivência entre sotaques que o país revela sua riqueza: não apenas no
que dizemos, mas no modo como dizemos.