Amigos do Fingidor

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A miragem elaborada – 13

Zemaria Pinto

O homem ocupa o espaço

XII


O levantamento completo do espaço poético amazônida de Alcides Werk encontra-se por inteiro no subtítulo “O homem e a terra”, de Trilha dágua.

O “Soneto aberto sobre a morte”, por exemplo, em Da noite do rio, recebeu a numeração VIII da sequência de sonetos. Embora naquele volume não houvesse subtítulos, era clara a intenção do autor de separar os poemas por unidade temática. Na primeira edição de Trilha dágua, por conseguinte, os subtítulos “O homem a a terra”, “A fala” e “Estudos” viriam concretizar essa intenção. Em “Estudos”, o autor localizou os poemas sob a forma de sonetos, com um conteúdo político, porém pessoal, particular. Ali, a atmosfera é densa, escura e um tanto amarga. O soneto VIII continha essa atmosfera, porém narrava em linguagem clara um fato externo, estranho ao caráter introspectivo dos demais composições ali enfeixadas.

Da mesma forma, os poemas “Das rosas”, “Dos juízes” e “Da espera” saíram da sequência original em Da noite do rio para compor o subtítulo “A fala”, onde o autor reúne poemas nos quais a experiência pessoal dá a tônica, porém sem a exigência formal de “Estudos”, prevalecendo, aliás, quase sempre, versos livres, além de uma atmosfera mais aberta, mais clara, menos tensa. Aqui, o espaço se contrai, se intimiza, se torna quase imperceptível. Mesmo quando a magnitude espacial se agiganta, como no poema “Noturno”, é para aumentar ainda mais a ideia de intimidade pessoal:

                    Um dia, nesta praia deserta,
                    de onde contemplo os meus ocasos
                    e somo por somar o tempo inútil

No espaço de “O homem e a terra”, portanto, o Homem – como fator externo à observação do mundo – ocupa a terra e compõe com ela o espaço de movimentação da poesia de Alcides Werk, dentro de um ciclo circular: o caminho percorrido vai da selva à selva, pelo rio, passando pela cidade.

Mas a cidade, sabemos, não é caminho: é destino. Logo, o retorno não se cumpre, reflete apenas a inquietação do homem diante do novo espaço que se lhe afigura incompreensível, inalcançável. Voltar? Sim,

seria bom, mas o cidadão é mais forte que o nativo, domina-o com sua linguagem de argumentos irrespondíveis, com sua sedução pela novidade, a novidade que atrai o homem mais que qualquer outro aspecto do ser, porque é o único que o acrescenta.

Essa consciência do não-retorno nos remete, novamente, a “Do tempo entre duas águas”, fecho o desfecho de “O homem e a terra”:

                    Então,
                    convocaremos a força benéfica
                    que desobstruirá os canais dos nossos sonhos,
                    e iluminará os nossos corações;


                    e nos ensinará os caminhos da urbe

                    e nos ensinará os caminhos da várzea

                    e nos ensinará os caminhos da terra firme

O poeta sonha com a aurora. Com a luz.