Amigos do Fingidor

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Apresentação que não aconteceu do livro Testemunhos e Memórias, de Armando de Menezes

Zemaria Pinto*



Testemunhos e Memória é um não-livro. Quero dizer, sendo um livro sobre livros, busca registrar o que sua gênese não registrou: a imanência própria da trajetória de textos que foram dados a lume... Desculpem-me: clareza, simplicidade e propriedade de expressão, recomenda-me o velho mestre. Recomecemos. Testemunhos e Memória é um livro sobre dois outros livros de Armando de Menezes – O Ministério Público do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas e O “Velho” Tude e Encontros com Familiares e Amigos. Traz ainda alguns bônus, mas vamos nos ater à matéria principal, que é o resgate do que foi publicado depois, compondo a história dos dois livros, registros que se perderiam em páginas de jornais ou em folhas soltas de cartas, bilhetes, telegramas. 

No que seria a primeira parte do livro, Armando de Menezes registra a história de O Ministério Público..., após o seu lançamento, a 22 de agosto de 2003, no salão nobre da Academia Amazonense de Letras. Nesse livro sobressaiu-se, sobretudo, o pesquisador, que se destacara no livro de estréiaO Tribunal de Contas do Amazonas, de 1977, e, um pouco, pois ali prevalecera o memorialista, em Aderson de Menezes – o Professor, de 1997, escrito em homenagem ao irmão querido, a quem todos somos devedores. Naquele livro, o professor de História alia-se ao jornalista e ao memorialista, pois, antes de ser Conselheiro daquela egrégia Corte, e seu Presidente, Armando foi membro do Ministério Público. Destaco da fala de apresentação do eminente acadêmico Élson Farias o registro da alegria do autor em reunir tantos amigos, porque, diz Elson, entre as “inúmeras artes em que é mestre o nosso companheiro de Academia, a arte da amizade é a que ele exerce com a maior destreza e a mais clara sabedoria.” 

A recepção ao livro que conta a história da atuação do Ministério Público no TCE do Amazonas vai muito além das palavras carinhosas dos amigos, pois se trata de obra original: os fatos narrados são iluminados pelo autor, ora coadjuvante, ora protagonista, revelando nuanças que a letra fria dos documentos oculta.    

A segunda parte de Testemunhos e Memória registra a história do livro O “Velho” Tude..., lançado também no venerável salão azul, na noite de 21 de novembro de 2003. Nesse livro, o homem cordial, o homem-coração, que é o Armando, faz uma comovente homenagem a seus pais, o Velho Tude e Dona Santa, forjadores do caráter íntegro e afável do amigo de todos nós, que começou Mandoca e hoje é o ínclito Dr. Armando Andrade de Menezes, titular da cadeira número 30 daquela quase nonagenária Casa. 

Os destaques sobre O “Velho” Tude... são tantos que enumerá-los seria maçante. Mas não posso deixar de citar o belo discurso de apresentação do confrade Almir Diniz, muito apropriadamente intitulado “A Nação dos Menezes”. Tampouco posso ignorar a saudação improvisada e terna do Dr. Oyama Ituassu, amigo pessoal do Velho Tude, que a todos emocionou ao recitar o antológico poema de Luís Guimarães JúniorVisita à casa paterna”:  

Como a ave que volta ao ninho antigo,

depois de um longo e tenebroso inverno,

eu quis também rever o lar paterno,

o meu primeiro e virginal abrigo.

Se o Armando não tivesse tido a iniciativa de publicar Testemunhos e Memória, aquele momento sublime seria hoje apenas mera lembrança dos que aqui estiveram naquela noite. E não teríamos também o registro das belas mensagens de Paulo Figueiredo, Almino Affonso, Bernardo Cabral, Carlos Michiles, Thiago de Mello e um poema inédito de Jorge Tufic: 

Tendo mais que esse olhar, posto que sonha,

Armando tece os fios com que tece

os pólens da saudade e do carinho. 

Se somos o que lembramos, como alguém afirmou, Testemunhos e Memória é um livro digno da bibliografia de Armando de Menezes, pois, fundamenta e enriquece a compreensão dos livros a que se reporta, especialmente de O “Velho” Tude..., que tem estofo de clássico da memorialística amazonense.

 
*Texto escrito para ser lido por ocasião do lançamento do livro Testemunhos e Memória, de Armando de Menezes, em setembro de 2005, que, não lembro mais porque diabos, não aconteceu.