Amigos do Fingidor

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Literatura amazonense de ficção – referências

Zemaria Pinto*


Talvez por questões quantitativas, os poucos que se aventuraram a escrever sobre a história da literatura amazonense preferem se referir a uma “literatura amazônica”, onde se inserem, naturalmente, os escritores paraenses. Isto me parece falso e artificial. A prosa de ficção no Amazonas existe, sim, e, embora pouco volumosa, vem obtendo reconhecimento nacional.

Devemos começar lembrando que a literatura não está unicamente confinada aos livros, embora este seja o veículo adequado a sua perpetuação. Assim, muito antes da colonização pelo homem branco, tínhamos na região uma literatura autêntica, que passava de geração a geração, via tradição oral. Refiro-me às lendas e aos mitos indígenas, que foram registrados em livros e que hoje podemos conhecer através da leitura de obras como Poranduba Amazonense (1887), de Barbosa Rodrigues, Lendas em Nheengatu e Português (1928), de Brandão Amorim, e Moronguetá – Um Decameron Indígena (1967), de Nunes Pereira.

Simá – Romance Histórico do Alto Amazonas (1857), do baiano Lourenço da Silva Araújo Amazonas, foi o primeiro romance com temática amazônica a ser publicado. De características românticas, Simá, ambientado nos arredores de Barcelos, mostra a degradação a que os portugueses submeteram a nação Manau, levando-a à revolta e iniciando um processo que viria resultar no seu extermínio. A experiência de Lourenço Amazonas vem encontrar continuidade 18 anos depois, com a publicação de Os Selvagens (1875), do português Francisco Gomes de Amorim, também de cunho indianista.

Os contos de Inferno Verde (1908), do pernambucano Alberto Rangel, abandonam a temática indígena e passam a usar a selva como personagem. Essa é uma característica que vamos encontrar em inúmeras narrativas de ficção sobre o Amazonas, todos elas de influência marcadamente naturalista, como A Selva (1930), do português Ferreira de Castro, e No Circo Sem Teto da Amazônia (1935), do amazonense Ramayana de Chevalier, ambos tendo como pano de fundo a exploração dos seringais. Esse é também o caminho traçado por Álvaro Maia. Natural de Humaitá, ele escreveu, entre outros, o romance Beiradão (1958), e os livros de contos Banco de Canoa (1963) e Defumadores e Porongas (1966).

Com a fundação, em 1954, do movimento conhecido como Clube da Madrugada, a ficção amazonenseum duplo salto, quantitativo e qualitativo. Inicialmente divulgados através de jornais, os contos dos jovens autores amazonenses começam a aparecer em livros: Histórias de Submundo (1960), de Arthur Engrácio, Alameda (1963), de Astrid Cabral, O Outro e Outros Contos (1963), de Benjamin Sanches, O Palhaço e a Rosa (1963), de Francisco Vasconcelos, Mundo Mundo Vasto Mundo (1966), de Carlos Gomes. Em 1965, o poeta Antísthenes Pinto publica sua primeira obra de ficção: a novela Chavascal. Embora sem qualquer ligação com o Clube, é por essa época que se revela o romancista Paulo Jacob, o primeiro a obter projeção nacional duradoura. Entre seus muitos títulos, destacam-se Chuva Branca (1968) e Vila Rica das Queimadas (1976).

Nas décadas seguintes, a produção dos afiliados ao Clube segue intensa: Restinga (1976) e Estórias do Rio (1984), contos de Arthur Engrácio, O Tocador de Charamela (1979), contos de Erasmo Linhares, Várzea dos Afogados (1982), romance, e Os Agachados (1985), novela, ambos de Antísthenes Pinto. Egresso do Clube e um dos poetas mais importantes daquele movimento, Elson Farias surpreende o seu público leitor com o romance O Adeus de Diana (1996).

Mas em paralelo ao fenômeno Clube da Madrugada a vida segue seu curso. Prematuramente desaparecido, Antônio Paulo Graça deixou-nos apenas um romance: Tango Selvagem (1993). Radicado em Brasília, o manauense Adrino Aragão destaca-se como contista: Tigre no Espelho (1993) é o seu livro mais conhecido. Merece destaque também, na década de 90, a contista Maria Luiza Damasceno, autora de O Eterno Vigia dos Meus (1992).

Márcio Souza e Milton Hatoum são um caso à parte no panorama atual da prosa de ficção no Amazonas. Autores de prestígio internacional, têm suas obras traduzidas em vários idiomas, além de, no Brasil, seus livros serem constantemente reeditados. Márcio Souza estreou com o romance Galvez, o Imperador do Acre (1976), escrito sob a forma de folhetim. Operação Silêncio (1978), Mad Maria (1980) e O Brasileiro Voador (1985) estão entre seus títulos de maior sucesso. O premiado Relato de Um Certo Oriente (1989) foi o primeiro romance de Milton Hatoum. Onze anos depois, lançou Dois Irmãos (2000), logrando alcançar, junto à crítica e ao público, sucesso idêntico ao primeiro.

(*) Não lembro mais o que me levou a produzir texto tão insosso, tão sem espírito.
Bem, talvez tenha alguma utilidade. Pelas referências, deve ser de uns 10 anos atrás.