Amigos do Fingidor

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Contos de uma aula no vermelho

Contos de uma aula no vermelho será lançado
nesta quarta-feira, 09/11, às 19h,
na Saraiva MegaStore.

Só escreve com efeito fulminante quem tem conhecimento de causa. Assim é o contista João Pinto, autor dos livros de contos Luzes esvaídas (Teresina, 1991) e O ditador na Terra do Sol (Manaus, 2002). O leitor não sai da leitura da mesma forma. Inovador é pouco. Um experimentador de novas formas. Não o contista experimental. Maduro na arte. Contos de uma aula no vermelho arrastam o leitor para novas possibilidades expressivas: a marcação da vírgula, quando assim o escritor quer. O leitor sente o estranhamento e a advertência.

O anacoluto e a fragmentação são as recorrências amiúdes que não deixam o leitor no sossego. “Fico ao lado do caixão para ver a anatomia de um professor morto”. A anatomia do conto, olhar vesgo e amargo do trabalho de carpintaria, do remador, do oleiro no desempenho e desempeno da feitura do objeto. 

“Uma caneta contra a minha escola”. A sentença remete o leitor ao dilema existencial do professor. O apontador deambula no quadro de todos os contos de uma aula no vermelho. Os contos espelham a sensação da incompletude e do desespero do escrevinhador, devolve-os como quem migra. A metáfora de cada conto, uma obra em construção, que se completa no ato finito que é a linguagem. 

O professor e o contista se reconhecem – duas vozes em uníssono – o social e o estético se entrecruzam surpreendentemente, tecendo a teia do fabulador no permanente flerte-flashe da vida. O conto do João – o vinho no balanço da taça encorpando o gosto no contato leve com o vidro e os lábios. O contista, qual o padeiro entre o forno e a fôrma; ou o ferrageiro entre a forja e a bigorna. Trabalha até obter o fascínio do objeto. Um deleite e um desafio para o leitor: 19 contos-aula, que nocauteado pelas lições de vida, resumidos numa mesma personagem. 

(Luiz Romero de Lima, na apresentação do livro)



Sobre o autor


João Pinto é contista do Piauí, nasceu em 1951, em Luzilândia, vive no Amazonas desde 1979, e sempre foi professor na Rede Estadual de Ensino, dando aula de Língua Portuguesa e Literatura, formou-se em Letras pela Universidade da Paraíba. É em João Pessoa, na década de 70, que se lança como contista no suplemento literário Correio das Artes. Em trinta anos com a arte de fazer contos, já lançou três livros Luzes Esvaídas (pelo projeto Petrônio Portela, Teresina, PI), O ditador da terra do sol (Editora Valer, Projeto Valores da Terra) e Contos de uma aula no vermelho (livraria Valer, com pré-lançamento na Escola Senador João Bosco, Cidade Nova, em 2010). Na década de 90, venceu o concurso de contos do Curso de Letras e Língua Portuguesa da Universidade do Amazonas. 

O livro em questão, Contos de uma aula no vermelho, apresenta-se com 19 contos num universo de 124 páginas. O tema principal da obra retrata a sala de aula, questionando as mazelas do ensino brasileiro com uma linguagem bem elaborada e criativa, que sempre foi o estilo do autor, não só neste novo livro mas também em toda a sua obra contista, que até já escreveu. O comentário a seguir, de Hildeberto Barbosa Filho, crítico e poeta paraibano, define bem a obra: 

Ando lendo seus Contos de uma Aula no Vermelho. Vejo que o velho artífice no manejo da linguagem continua o mesmo, desde aquele livrinho de estreia. Só que agora inteiramente maturado pelo tempo e pela experiência. Você trata o idioma como se polisse a textura de um cristal, como se buscasse, nessa estranha empreitada, novos encaixes para as palavras, novas possibilidades de deslocamentos e condensações para que elas sugiram. Como na poesia e à Mallarmé, significações surpreendentes e inesperadas. As aspirais que você modula em torno do tempo, a fragmentação da frase, os cortes abruptos de perspectiva, enfim, o jogo incandescente das metáforas e, sobretudo, o impacto dos anacolutos, faz de sua prosa não somente uma modelar vivência da forma, mas pura formatividade, para me valer de uma expressão de Luigi Pareyzon. Também aprecio o apelo social da temática, na sua unidade de substância e na sua singularidade pragmática. A consciência do professor não elide a consciência do esteta. Sem mais, por enquanto. Meu grande abraço.
(Hildeberto Barbosa Filho)