Amigos do Fingidor

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O futuro de sua pele

Marco Adolfs



Ela tentara enganar o espelho enquanto pudera. Mas agora percebera que o jeito era fazer cirurgia plástica na face, na barriga e até nas coxas. Tudo por culpa da decadência de suas células que provocavam aquela flacidez e sobra de pele. As malditas rugas. Mas fazendo a cirurgia plástica ela poderia esticar-se todinha como borracha. Se pudesse, usaria luvas plásticas coladas nas mãos. “Ficaria lisinha, lisinha”, pensou fantasiosamente. Só assim poderia esconder a verdade.

Deitara-se então em uma maca e estava sendo examinada pele a pele, célula a célula pelo cirurgião plástico.

– A nossa cirurgia propõe retirar esses excessos, senhora – dizia-lhe o doutor. – Realizamos uma tração no sentido superior a fim de reposicionar a pele e os músculos.

– Preciso imensamente disso, doutor – observou.

– Vamos lhe dar anestesia local e sedação – continuou o doutor. – Mas posso usar anestesia geral, se a senhora assim o preferir...?...

– Ah! É bem melhor, assim eu não vejo nada.

No dia marcado ela então foi para a sala de cirurgia como quem vai para a promessa do paraíso. Um leve nervosismo não poderia perturbar a certeza de uma cara novinha em folha.

            A operação então começou. Completamente sedada, o corte do bisturi passeava pelas linhas coloridas feitas em sua face como se fosse um pincel. A gordura localizada foi a primeira a sair por debaixo da pele repuxada. E como flocos de algodão, eram depositados em uma bandeja. Logo o doutor a costurava. No final, fez a lipoaspiração do pescoço.

Recuperando- se, ainda imobilizada na cama, seus olhos procuravam o futuro de sua pele. Via-se novinha em folha entre amigas invejosas e homens interessados. O espelho brilhando de alegria.