Amigos do Fingidor

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Lábios que beijei 48


Zemaria Pinto
Nete 


Era magra, pequena, frágil, quase efêmera. Apenas os lábios e os seios de Nete pareciam desproporcionados, mais volumosos que o conjunto. Conheci-a no clube que frequentava aos sábados, com as crianças. Ela estava no segundo ano do secundário. A primeira vez que fomos a um hotel foi inesquecível – pelo que não aconteceu. Com o tempo, a menina foi aprendendo a arte e eu me adaptei de tal modo àquela branda arquitetura, que, no contato com outras mulheres de formas exuberantes, sentia falta de ângulos e reentrâncias que só encontrava em Nete. O passar do tempo lhe foi benéfico, tornando-a harmoniosa, sem perder o encanto da delicadeza. Nete casou, teve uma pequena, mas apesar de esparsos, nossos encontros continuavam divertidos e cheios de tesão. Obrigações maritais, entretanto, arrastaram-na ao Chile. Ainda recebi 3 ou 4 cartas saudosas, com endereço da posta-restante, até que o silêncio dos anos deixou-me apenas a lembrança de Nete. Tênue, suave, infinda.