Pedro Lucas Lindoso
Mais uma vez chega agosto e se comemora o dia dos pais. Para
muitos brasileiros é um dia de tristeza e constrangimentos. Há milhares de
pessoas que não foram reconhecidas por seus pais. Na Amazônia, há os filhos de
boto.
Reza a lenda que o boto sai dos rios e se transforma em um
garboso rapaz. Veste-se de elegante traje branco e sempre usa um chapéu para
cobrir a narina do topo de sua cabeça. Seduz moças desacompanhadas, engravidando-as.
Daí o costume de dizer que, quando uma mulher tem um filho de pai desconhecido,
é “filho do boto”.
Conversando com meu amigo Chaguinhas sobre filhos e a função
de ser pai, ele vai logo sendo sarcástico e começa a filosofar:
– Meu amigo, acho que a gente nunca na verdade se torna um
filho adulto. Apenas se aprende como atuar em público, geralmente de maneira
hipócrita e/ou dissimulada.
Os filhos serão sempre filhos. Os filhos de boto aprendem a
se virar e desde cedo lutam pela sobrevivência. Ribeirinhos ou urbanos vão à
luta somente com a ajuda materna, que é a que mais importa.
Enquanto os filhos de boto não recebem nenhum carinho e
orientação dos pais, os filhos legítimos e reconhecidos podem ser vítimas de
muita proteção. O desvelo de muitos pais pode ser um mal para os filhos.
Contou-me que um colega seu, professor de uma faculdade de
Direito em Brasília, recebeu a visita de um pai de aluno, questionando a baixa
nota de seu filho, acadêmico de direito. O mais absurdo é que o pai do
“garotinho estudante de direito” era um advogado, com atuação em uma
cidadezinha do interior de Goiás.
O professor argumentou ao colega pai que o rapaz deveria vir
falar com ele pessoalmente e pedir a revisão da prova. Afinal, já era um
adulto. Era preciso aprender a atuar em público. Em breve, seria um advogado!
O rapaz se formou. Logo após a formatura o pai faleceu. Ele
teve que cuidar do inventário. Ao se dirigir ao juiz, ao invés de qualificar o
de cujus como FULANO DE TAL, etc., começou a petição assim:
Papai...