Pedro Lucas Lindoso
Gosto muito de banhos de mar, de piscina e, principalmente,
de banho de igarapé. Quando menino ansiava pelos fins de semana quando íamos
aos banhos. Havia os banhos do Bosque clube, do Guanabara e os particulares.
Dr. Moura Tapajós foi
um conceituado médico amazonense. Grande amigo de meu pai. Hoje nome de hospital em justa e merecida
homenagem. Dr. Moura tinha um banho com igarapé de gostosas e refrescantes
águas cristalinas.
Quando fui morar em Brasília sentia saudades dos banhos de
igarapé. Lá há muitos clubes com piscinas. São os “banhos” de Brasília. Numa
segunda-feira de calor seco na cidade, disse aos colegas de classe que havia
comemorado meu aniversário no banho. Risada geral. Um deles perguntou:
– Tomando banho na banheira ou no chuveiro?
Eu que nunca permiti que me fizessem bullying, logo respondi:
– Na piscina. Teleso é? (Tu és leso?, em amazonês.)
Eu era o único amazonense da classe. Ao retornar de férias
fiz uma redação na qual relatava um casamento ocorrido num município do
interior. Hoje não se fala mais em redação e sim “produção de texto”. Meu texto
terminava mais ou menos assim:
“Depois da festa e do almoço, uma farta tartarugada, os
recém- casados partiram de motor, em lua de mel.”
A professora leu em voz alta e elogiou o texto. Queria só
saber o que era o tal “motor”.
Expliquei que motor-de-linha são barcos regionais de madeira,
dotados de motor a diesel. Os passageiros ficam sentados em bancos de madeira
ou se acomodam em redes de dormir. Cada barco faz linha em rotas regulares
entre comunidades do interior e Manaus. O motor faz paradas intermediárias. Em
geral viajam lotados, carregando pessoas e mercadorias.
Na hora do recreio, a conversa girava sobre bolachas. Uns
gostavam da bolacha Piraquê, outros da Aymoré ou Tostines. Eu disse que bolacha
boa é “bolacha de motor”. São servidas aos viajantes de motor, geralmente com
café. Todo amazonense conhece. E gosta. Pode-se levar bolacha de motor para os
banhos também. A curuminzada agradece. As bolachas de motor são servidas também
nas escolas e em ocasiões menos festivas. Mas são sempre bem aceitas.