Pedro Lucas Lindoso
No mês de junho há duas festas importantes e conhecidas no
Estado do Amazonas. O Festival folclórico dos bumbás em Parintins e a Festa de
Santo Antônio em Borba.
Os moradores de Manaus precisam se deslocar de barco, iate ou
avião para esses festejos. Muitos o fazem, pois vale a pena. Ir tanto a Borba
quanto a Parintins, apesar da distância.
Na Manaus de antigamente havia o Mina de Ouro, o Caprichoso
da Praça 14, o Garantido da Cachoeirinha e muitos outros. A lenda do boi
retrata a história de Pai Francisco e Catirina. Para saciar o desejo de
Catirina por uma língua de boi, Pai Francisco mata o animal do senhor da
fazenda. O boi ressuscita no final com festa e muita alegria.
Não havia o “glamour” da festa de Parintins As famílias
contratavam os bois para atuar em suas casas. Era um dia de Santo Antônio e eu
um garoto de calças curtas quando veio um boi brincar em frente à nossa casa.
Arminda cozinhava para a família e encantou-se com o espetáculo. Nascida em
Borba e devota de Santo Antônio, tinha certeza que se casaria e constituiria
família. Ao final da festa um rapaz tímido veio conversar com Arminda.
Começou dizendo que era do grupo do boi e que notou a sua
alegria durante o espetáculo.
Mas como? Perguntou Arminda. Eu nem te vi! No que o moço
respondeu:
– Eu sou o tripa do boi.
O tripa ou miolo é o rapaz que veste o boi. É responsável por
todos os movimentos bovinos, mas não aparece durante o espetáculo.
Arminda e Manoel se casaram em 1968. Estão completando 50
anos de casados. Encontrei-os na Igrejinha de Santo Antônio conhecida como
Igreja do Pobre Diabo. E, coincidência! Fica na Rua Borba no Bairro da Cachoeirinha
em Manaus.
A capela em honra a Santo Antônio foi construída por um
próspero e bondoso português, devoto do santo, para pagar uma promessa. O
português, muito humilde, ao ser elogiado ou cumprimentado, dizia que “era um
pobre diabo”, “sem eira nem beira”. Por ter construído a igrejinha, a mesma ficou
conhecida como Igreja do Pobre Diabo, mas é de Santo Antônio.
Fica lotada no dia 13 de junho. E lá estava Arminda. Que, por
obra e graça do santo casamenteiro, está casada há cinquenta anos com Manoel, o
tripa do boi.