Amigos do Fingidor

terça-feira, 7 de maio de 2019

Doce vocativo, verdadeiro aposto



Pedro Lucas Lindoso


Aulas de Língua Portuguesa. Quando estudante, erámos obrigados a fazer análise. Fazia-se análise morfológica nas primeiras séries. Depois era exigida análise sintática. Fiz incontáveis provas de Português em que constavam inúmeras análises sintáticas. Orações retiradas de textos de Machado de Assis, Camões e até do Hino Nacional.
Gostava quando os professores nos cobravam redações. Ou dissertações. Ouvi dizer que não se faz mais redação. Os alunos são convidados a fazer produção de textos. Será que ainda ensinam análises em aulas de Português?
Sempre achei interessante os vocativos e apostos. Vocativo é um termo descolado sintaticamente da oração, não pertence nem ao sujeito, nem ao predicado. Ele serve para invocar o receptor da mensagem.  E é sobre vocativos e apostos que quero falar.
Mano velho! Vocativo típico de nossa cultura amazonense. Manazinha! Mano! Mana!
Getúlio Vargas proclamava: Trabalhadores do Brasil! O outro discursava: Brasileiros e brasileiras!
 Filhinho! Vem cá. Pede a mãe. Filho! O que precisas? Pergunta o pai. Amor! Amo-te. Jurou à amada. Ana chamava os amigos de compadre e comadre. Virou comadre Ana. De todos.
Poeta! Alguém assim me chamou! Fiquei feliz, mas foi um susto! Tenho poucas poesias. Gosto de escrever crônicas. Poeta! Um vocativo que além de me assustar, me estremece o coração.
Já o aposto é o termo que, acrescentado a outro termo da oração, explica ou esclarece o sentido de um nome; aparece geralmente separado por vírgulas.
Elson Farias, grande poeta amazonense, me ensinou que crônicas podem ser poesias. Usei um aposto para descrever o Elson. E explicar o espanto do vocativo: Poeta!
Entre vocativos e apostos, vejam esses: Maria Luísa, minha netinha, cheia de charme e simpatia exclama:
– Vovô Pedro! Este o mais doce vocativo. Aquele, o mais verdadeiro aposto. Gostoso de ouvir. Gostoso como pupunha com café.