Amigos do Fingidor

terça-feira, 14 de maio de 2019

Esperando Guaramiranga ou Godot?



Pedro Lucas Lindoso


Estava meditando sobre os destinos da Zona Franca de Manaus e de nosso Polo Industrial. Distraído e olhando para o tempo. De repente, fui interrompido pelo meu velho e dileto amigo Chaguinhas.
– O que fazes? Perguntou-me. Esperando pelo Guaramiranga?
Aprendi que essa expressão é usada desde a época da Segunda Guerra, por amazonenses, quando se aguarda por algo que não chegará nunca. A origem está na frustrada espera de um navio denominado Guaramiranga. Apesar de esperado ansiosamente pela população da cidade, jamais aportou em nosso Porto de Manaus. O qual chamamos carinhosa e historicamente de “roadway”.
Durante a Segunda Grande Guerra a cidade sofria muito com o desabastecimento de gêneros de primeira necessidade. Arroz, feijão, açúcar, carne, leite e derivados. Deveriam chegar pelo Guaramiranga, que nunca chegava.  Tudo faltava. Se até nos dias de hoje faltam produtos na cidade. Imagem em época de guerra mundial, com constantes racionamentos.  Manaus sempre foi muito longe.
Havia filas quando os navios chegavam do sudeste. Alguns até chegaram. Menos o Guaramiranga. Ouviam-se notícias dos conflitos na Europa, pelo rádio ou via telégrafo. A população fazia filas para adquirir os produtos. Meu amigo Chaguinhas, hoje octogenário, era menino de calças curtas. Disse-me que enfrentou várias filas. Esperando pelo Guaramiranga que nunca veio! Guaramiranga sempre ficou no Ceará. É nome de município cearense. O navio até hoje é esperado por aqui!
Lembrei-me da famosa peça de teatro Esperando Godot, de Samuel Beckett. Importante obra para a literatura e o teatro ocidental. Tornou-se um divisor de águas no teatro do século 20. Dois “vagabundos” aguardam infinitamente, num descampado, a vinda do senhor Godot, que nunca aparece. É genial porque quebrou o paradigma de uma época em que o teatro oferecia somente sequências lógicas, com começo meio e fim.
Na atual conjuntura, todos os amazonenses e habitantes de Manaus, desde empregados e empresários até autoridades civis e eclesiásticas, esperam ansiosos por uma definição sobre os destinos da Zona Franca e do polo industrial. 
Será que estamos esperando por Guaramiranga ou por Godot?