Pedro Lucas Lindoso
Paris é linda, mas para conhecer e entender os franceses não
se pode esquecer que eles são cartesianos. A influência do pensador Descartes é
significativa na cultura francesa. Uma
das lições de René Descartes que guardo na memória é que: “Não há nada no mundo
que esteja melhor repartido do que a razão: todos estão convencidos de que a
tem de sobra.” Inclusive, e principalmente, os franceses.
Talvez ninguém no mundo seja tão ou mais metódico e
sistemático que os franceses. Ao chegarmos ao hotel, nos perguntaram a que
horas iríamos tomar o café da manhã.
Havia senhas para: 6:30 – 7:30 – 8:30 – 9:30. Ficamos com a senha de
7:30.
Em frente a nossa mesa no café havia uma família francesa de
quatro pessoas. Pais e um casal de filhos. O pai pegou uma baguete e a dividiu
em quatro pedaços iguais. Parecia que tinha usado uma régua. Eles são
“partager”, palavra que significa separar, dividir, compartilhar.
Descarte ensinou aos franceses que os humanos são diferentes
dos bichos:
– Penso, logo existo.
Os jardins franceses como os de Versalhes são geométricos. A
simetria é perfeita. Retratam perfeitamente a lógica cartesiana.
Lembrei-me de madame Carradot, minha professora de francês em
Brasília. Esposa de um engenheiro parisiense que veio a Brasília quando da
instalação do sistema francês de
controle de tráfego aéreo, nos anos de 1970. O sistema Cindacta. Madame
Carradot dava aulas particulares de francês em sua casa. Éramos uma turma de
cinco alunos.
No dia de seu aniversário nos ofereceu um bolo, um “gateau”,
como se diz em francês. Madame repartiu o bolo em exatos seis pedaços. Para ela
e os cinco alunos. “Bien partagé”, bem dividido. Simétrica e cartesianamente.
Depois nos serviu um delicioso queijo francês. Compartilhado também em seis
pedaços. Tudo na França parece ser organizado e simétrico sem jamais perder a
formalidade. Na França é assim:
– Pão pão, queijo queijo. E que delícia de queijo.