Amigos do Fingidor

terça-feira, 11 de junho de 2019

Pão pão, queijo queijo



Pedro Lucas Lindoso


Paris é linda, mas para conhecer e entender os franceses não se pode esquecer que eles são cartesianos. A influência do pensador Descartes é significativa na cultura  francesa. Uma das lições de René Descartes que guardo na memória é que: “Não há nada no mundo que esteja melhor repartido do que a razão: todos estão convencidos de que a tem de sobra.” Inclusive, e principalmente, os franceses.
Talvez ninguém no mundo seja tão ou mais metódico e sistemático que os franceses. Ao chegarmos ao hotel, nos perguntaram a que horas iríamos tomar o café da manhã.  Havia senhas para: 6:30 – 7:30 – 8:30 – 9:30. Ficamos com a senha de 7:30.
Em frente a nossa mesa no café havia uma família francesa de quatro pessoas. Pais e um casal de filhos. O pai pegou uma baguete e a dividiu em quatro pedaços iguais. Parecia que tinha usado uma régua. Eles são “partager”, palavra que significa separar, dividir, compartilhar.
Descarte ensinou aos franceses que os humanos são diferentes dos bichos:
– Penso, logo existo.
Os jardins franceses como os de Versalhes são geométricos. A simetria é perfeita. Retratam perfeitamente a lógica cartesiana.
Lembrei-me de madame Carradot, minha professora de francês em Brasília. Esposa de um engenheiro parisiense que veio a Brasília quando da instalação do sistema francês  de controle de tráfego aéreo, nos anos de 1970. O sistema Cindacta. Madame Carradot dava aulas particulares de francês em sua casa. Éramos uma turma de cinco alunos.
No dia de seu aniversário nos ofereceu um bolo, um “gateau”, como se diz em francês. Madame repartiu o bolo em exatos seis pedaços. Para ela e os cinco alunos. “Bien partagé”, bem dividido. Simétrica e cartesianamente. Depois nos serviu um delicioso queijo francês. Compartilhado também em seis pedaços. Tudo na França parece ser organizado e simétrico sem jamais perder a formalidade. Na França é assim:
– Pão pão, queijo queijo. E que delícia de queijo.