Amigos do Fingidor

terça-feira, 4 de junho de 2019

Percebes? Não percebi!



Pedro Lucas Lindoso


A comunicação entre humanos nunca foi muito fácil. O homem precisou criar a escrita para estabelecer leis e contratos. E assim melhor se comunicar.
Ouve-se muito – “não entendi”. “I don’t understand”, em inglês, a atual língua do mundo ocidental. Ora, principalmente entre pessoas de nacionalidade diferente, ou mesmo entre falantes da mesma língua, pode haver ruído na comunicação.  Em Inglês, a palavra “misunderstanding" significa que há um desentendimento, um conflito. Coisa diferente de um mal-entendido ou uma falha na comunicação. Para os linguistas o essencial é a competência linguística. Ou seja, o importante é ser entendido.
Nessas situações, em Portugal eles dizem: “não percebi”. Nós dizemos, geralmente, “não entendi”. Há muitas diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal. Quando se vai lá, no avião já se “percebe” as diferenças. Não se faz conexão e sim “ligação”. Avião é avião e nunca “aeronave”. Os aviões fazem rolagem, descolagem e aterragem. Não há poltronas em aviões da TAP-AIR PORTUGAL. Há cadeiras e sob as cadeiras há coletes de salvação. Nós dizemos salva-vidas. Na descolagem e aterragem pede-se que endireite as costas das cadeiras, ora pois, pois. Nada de poltrona na vertical.  E ainda devemos colocar os celulares em “modo voo” e não no modo avião. Avião não tem parte “traseira”. Senta-se na retaguarda. 
São tantas as diferenças que se fica meio atordoado. Percebes? É bom planear a viagem, porque planejar é coisa de brazucas.
Quando se vai à Europa ganha-se pelo menos 5 horas de fuso. Ao desembarcar em Lisboa ou no Porto devemos procurar as malas nos “tapetes” porque não existem “esteiras” nos aeroportos de Portugal.
Meio atordoado, após tantas horas de voo e fuso horário diferente, dirigi-me em inglês à funcionária da TAP. Ela me deu uma “mijada”, como se diz em bom amazonês.
– O senhor é brasileiro. Fala-se Português em Portugal!
Morri de vergonha. Se fosse no Brasil alguém diria:
– Compreendeu ou quer que eu desenhe?
– Percebes? Não percebi!