Pedro Lucas Lindoso
A jovem filha de meu amigo André cantou e dançou muito a
música “Despacito”. Até que, um dia,
simplesmente Luana não a cantou mais. André pensou que a garota levaria pelo
menos uns três meses cantarolando e dançando a canção de letra em espanhol. Eu
levei anos e anos cantarolando “Pela luz dos olhos teus”, de Tom Jobim, cantado
pela Miúcha, me disse André.
André reclamava que a filha trocou novamente de celular! É
assim, hoje em dia. Tudo fica velho rápido. O celular, as músicas, as fotos.
Antes tínhamos que esperar pela revelação de fotografias tiradas em máquinas
exclusivamente fotográficas. Rezando
para que não “velassem”. Uma semana para receber aquelas trinta e seis fotos
que contavam tudo sobre as férias de todo o verão. Luana havia tirado milhares
delas e nunca revelou nenhuma. É tudo rápido e supérfluo.
Os celulares incorporam-se ao corpo das pessoas. São usados
em todos os locais. Escolas, igrejas, hospitais, na rua, nos centros de
compras, no cinema, nos banheiros. Enfim, o celular é usado em todos os lugares
indistintamente. As pessoas sorriem, se espantam, ficam tristes
unilateralmente, sem muitas vezes compartilharem fisicamente suas emoções com
outras pessoas.
André me disse que
desistiu de usar o celular. Começou a ter taquicardia. Não aguentava mais. O
tal de WhatsApp. Havia dois grupos familiares em que as notícias, “fakes” ou
não, estavam sendo compartilhadas, semeando discórdia entre irmãos, cunhados, sobrinhos
e primos.
Havia um tempo em que as notícias vinham pela boca do povo.
Num português pausado, coloquial e gostoso.
Independentemente do falar ser correto ou não. Hoje as notícias chegam
pela internet, com uma linguagem mais rápida, em sinais como se fossem
hieróglifos modernos. Os termos reduzidos ou em abreviaturas suspeitas. E rápido.
Muito rápido. Mais rápido que rapidamente.
Há ainda as notícias veiculadas nas redes sociais,
impregnadas de muito ódio aos que pensam diferente do grupo emissor. Ou então
mentirosamente melosas, com desejos de sucesso e felicidades copiados de outros
compartilhamentos. Virtuais, mas, paradoxalmente, de uma falsidade real.
Luana havia perguntado ao André como era a vida quando ele
era pequeno. André respondeu que a vida era tudo mais devagar. Devagarzinho
como na música que Luana ouvia e não ouve mais. Tudo era assim, despacito...