Marília de Dirceu
Tomás Antônio Gonzaga (1744-1809)
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Esprema a vil calúnia
muito embora,
entre as mãos denegridas
e insolentes,
os venenos das plantas
e das bravas serpentes;
Chovam raios e raios, no
meu rosto
não hás de ver, Marília,
o medo escrito,
e medo perturbado,
que infunde o vil delito.
Podem muito, conheço,
podem muito,
as fúrias infernais, que
Pluto move;
mas pode mais que todas
um dedo só de Jove.
Este Deus converteu em
flor mimosa,
a quem seu nome dera, a
Narciso;
fez de muitos os astros,
qu’inda no Céu diviso.
Ele pode livrar-me das
injúrias
do néscio, do atrevido,
ingrato povo;
em nova flor mudar-me,
mudar-me em astro novo.
Porém se os justos Céus,
por fins ocultos,
em tão tirano mal me não
socorrem,
verás então que os sábios,
bem como vivem, morrem.
Eu tenho um coração maior
que o mundo,
tu, formosa Marília, bem
o sabes:
um coração, e basta,
onde tu mesma cabes.