Uivo (fragmento)
Allen
Ginsberg
(1926-1977)
Para
Carl Solomon
I
Eu vi os expoentes da minha geração
destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro
negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
“hipsters” com cabeça de anjo
ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado na maquinaria da
noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na
sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando
sobre os tetos das cidades contemplando jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu
sob o Elevado e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das
casas de cômodos,
que passaram por universidades com
olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake
entre os estudiosos da guerra,
que foram expulsos das universidades
por serem loucos & publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de
paredes de pintura descascada em roupa de baixo queimando seu dinheiro em
cestos de papel, escutando o Terror através da parede,
que foram detidos em suas barbas
púbicas voltando por Laredo com um cinturão de marijuana para Nova York,
que comeram fogo em hotéis mal
pintados ou beberam terebintina em Paradise Alley, morreram ou flagelaram seus
torsos noite após noite
com sonhos, com drogas, com pesadelos
na vigília, álcool e caralhos e intermináveis orgias,
incomparáveis ruas cegas sem saída de
nuvem trêmula e clarão na mente pulando nos postes dos polos de Canadá &
Paterson, iluminando completamente o mundo imóvel do Tempo intermediário,
solidez de Peiote dos corredores,
aurora de fundo de quintal com verdes árvores de cemitério, porre de vinho nos
telhados, fachadas de lojas de subúrbio na luz cintilante de neon do tráfego na
corrida de cabeça feita do prazer, vibrações de sol e lua e árvore no ronco de crepúsculo
de inverno de Brooklyn, declamações entre latas de lixo e a suave soberana luz
da mente,
(Trad.: Cláudio Willer)