Pedro Lucas Lindoso
Parodiando
a famosa canção: este ano foi igual àquele que passou, eu não brinquei, você
também não brincou. Aquela fantasia que eu comprei ficou guardada e a sua
também, ficou pendurada. Mas ano que vem tá combinado. Vamos brincar aglomerados!
Há
pessoas que têm restrições ao carnaval. Umas até por razões religiosas. Eu
respeito, claro. Mas o inesquecível dom Helder Câmara opinou a respeito: “Carnaval
é alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a
minha gente querida.”
Recebi um
WhatsApp de tia Idalina. Estava inconsolável com o cancelamento do desfile das
escolas de samba do Rio de Janeiro. E dizia:
– Nos
meus setenta anos de vida, nunca vi cancelarem o carnaval. Uma tristeza!
Idalina
insiste em dizer que só tem setenta anos. Uma pessoa que dirigia uma
Romi-Isetta pelas ruas de Copacabana nos anos de 1960, não tem só essa idade.
Mas o assunto é carnaval.
Todo
ano Idalina convida os sobrinhos para assistir ao desfile em seu apartamento.
Quando recebe pirarucu seco e farinha de Manaus prepara um delicioso pirarucu
de casaca. E vatapá feito com pão. É muito concorrido. Mais animado até do que
ir ao sambódromo. Principalmente depois que titia comprou uma mega TV. Parece
cinema.
Ela
ainda oferece um papel impresso com o nome das escolas e os respectivos itens.
E uma prancheta com caneta. Para quem quiser brincar de ser júri e dar notas
durante o desfile. O vencedor é homenageado no sábado seguinte, no desfile das
campeãs, com um delicioso tacacá.
Durante
anos tia Idalina torceu pela Portela. Depois andou apoiando a Mangueira. Mas há
anos que se encantou com a Beija-Flor e diz que jamais vai virar casaca. É
Beija-Flor e pronto!
Não é à
toa que titia ficou triste com o cancelamento dos desfiles. E os sobrinhos
também, claro. Na sua opinião o carnaval é muito importante para o povo. O
carnaval põe um pouco de sonho e alegria na realidade dura dessa vida.
Portanto, ela já decidiu:
– Ano
que vem está combinado. Vamos assistir ao desfile aqui, aglomerados!
PS. O
Romi-Isetta foi um microcarro produzido no Brasil, entre 1956 e 1961, pelas
Indústrias Romi S.A.