Amigos do Fingidor

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

A poesia é necessária?

 

Certos amores

Astrid Cabral

 

Afirmo: certos amores

são manhãs no infinito.

A luz em ritmo lento

não conduz ao sol a pino.

Certos amores se espraiam

sem pressa assim sonolentos

por intérminas estradas.

Sossegam secretos. Dormem

sob chaves de silêncio.

Vacinados contra o efêmero

recolhem-se disfarçados

sob véus de negligência

latejando na reserva.

Certos amores não crescem.

Hibernam pura promessa

de fogo a arder. Aguardam

só que o fósforo do acaso

risque a fagulha da chama.