Pedro Lucas Lindoso
Em
tempo de “streaming” vejo um filme como quiser, onde quiser, quando quiser. Com
interrupções. Ou sem interrupções.
Houve
um tempo em que íamos aos cinemas e havia sessões contínuas. Não havia shopping
centers. Os cinemas eram nas ruas das cidades. Geralmente, nos centros.
Havia cinemas nos bairros também.
As sessões geralmente começavam às 14:00
horas. Havia sessões às 14:00, 16:00, 18:00, 20:00 e 22:00 horas. E eram
contínuas. Essa prática era muito comum em cinemas, durante décadas.
É
nostálgico. Os cinemas de rua acabaram.
Viraram lojas, edifícios comerciais. E pasmem! Muitos em várias cidades viraram
igrejas.
Acabaram
os cinemas de rua e as sessões contínuas. Será que preciso explicar o que eram
sessões contínuas? Sim, preciso. Meus filhos e meus sobrinhos não sabem o que
eram as sessões contínuas. Explica-se:
Os
cinemas em geral permitiam que as pessoas chegassem a qualquer momento para
assistir aos filmes.
Como já
dito, a primeira sessão era as 14:00 horas. Podíamos chegar as 15:00, assistir
do meio para o fim. E então esperava-se o início da outra sessão para ver a
primeira parte do filme.
Nos
cinemas havia os lanterninhas. Eles iluminavam o caminho dos frequentadores até
uma cadeira vazia. E eram responsáveis por pedir silêncio e até expulsar quem
se excedia no barulho, na bagunça ou até mesmo num beijo mais audacioso.
Havia
os que viam o filme em uma sessão e namoravam na outra. Ou vice-versa.
Com o
tempo, surgiram os shoppings com uma nova forma de exibição. Os cines
multiplex oferecem várias salas de cinema em um único local. Geralmente shoppings. A nova dinâmica possibilitou ao público
escolher entre uma variedade de filmes e horários. Foi o fim das sessões
contínuas.
Tive um
professor na faculdade que dava a mesma aula para as turmas A e B. Na nossa
turma A de oito às dez. Na turma B, de dez ao meio dia. Certo dia cheguei
atrasado. O mestre perguntou-me:
Vai
assistir a sessão contínua?
Recebi
e mail de Brasília no qual um colega me informa que o mestre havia falecido.
Esquecido num asilo. Acabaram as sessões contínuas.
Mas a
vida continua. Como ela é!