Amigos do Fingidor

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Sessões contínuas

Pedro Lucas Lindoso

 

Em tempo de “streaming” vejo um filme como quiser, onde quiser, quando quiser. Com interrupções. Ou sem interrupções.

Houve um tempo em que íamos aos cinemas e havia sessões contínuas. Não havia shopping centers. Os cinemas eram nas ruas das cidades. Geralmente, nos centros. Havia cinemas nos bairros também.

 As sessões geralmente começavam às 14:00 horas. Havia sessões às 14:00, 16:00, 18:00, 20:00 e 22:00 horas. E eram contínuas. Essa prática era muito comum em cinemas, durante décadas.

É nostálgico.  Os cinemas de rua acabaram. Viraram lojas, edifícios comerciais. E pasmem! Muitos em várias cidades viraram igrejas.

Acabaram os cinemas de rua e as sessões contínuas. Será que preciso explicar o que eram sessões contínuas? Sim, preciso. Meus filhos e meus sobrinhos não sabem o que eram as sessões contínuas. Explica-se:

Os cinemas em geral permitiam que as pessoas chegassem a qualquer momento para assistir aos filmes.

Como já dito, a primeira sessão era as 14:00 horas. Podíamos chegar as 15:00, assistir do meio para o fim. E então esperava-se o início da outra sessão para ver a primeira parte do filme.

Nos cinemas havia os lanterninhas. Eles iluminavam o caminho dos frequentadores até uma cadeira vazia. E eram responsáveis por pedir silêncio e até expulsar quem se excedia no barulho, na bagunça ou até mesmo num beijo mais audacioso.

Havia os que viam o filme em uma sessão e namoravam na outra. Ou vice-versa.

Com o tempo, surgiram os shoppings com uma nova forma de exibição. Os cines multiplex oferecem várias salas de cinema em um único local. Geralmente shoppings.  A nova dinâmica possibilitou ao público escolher entre uma variedade de filmes e horários. Foi o fim das sessões contínuas.

Tive um professor na faculdade que dava a mesma aula para as turmas A e B. Na nossa turma A de oito às dez. Na turma B, de dez ao meio dia. Certo dia cheguei atrasado. O mestre perguntou-me:

Vai assistir a sessão contínua?

Recebi e mail de Brasília no qual um colega me informa que o mestre havia falecido. Esquecido num asilo. Acabaram as sessões contínuas.

Mas a vida continua. Como ela é!