Pedro Lucas Lindoso
No
quintal de minha avó materna, Brigitta Daou, havia muitas árvores frutíferas. A
casa da vovó ficava numa chácara, na Vila Municipal. Hoje Adrianópolis. No
local foi construído um condomínio.
Algumas mangueiras teimam em ultrapassar anos, demolições e construções.
Ultrapassaram também vidas, recordações e memórias. Menos as minhas.
Além
das mangueiras, havia pés de jambo, abricó, pitomba, ingá e sapotilha. Ou
sapoti. Nunca soube qual seria o nome certo. Há ainda os que as chamam de
sapota. Eu as chamo de sapotilha e pronto.
Minha
amiga Ana Lucia, bióloga especialista em botânica, me disse que a sapotilha é
nativa do sul do México e da América Central. A sapotilha é muito apreciada in
natura. Cultivada em várias partes do Brasil. Desde o sul do estado de São
Paulo até a nossa região amazônica.
Minha
avó tinha duas irmãs e um irmão. Tia Antonieta, Tia Helmosa e Tio Bianor. Tia
Helmosa gostava muito de sapotilha. Chamava-as de sapoti. O que deve ser o mais
correto. Tia Helmosa era muito culta.
Teve uma educação primorosa. Além de um português escorreito, falava inglês
e francês com perfeição. Principalmente, francês.
Tio
Bianor era apaixonado por aviões. Foi estudar em Paris depois do fim da
Primeira Guerra. O período entre guerras foi a Era de Ouro dos aviões.
Tio
Bianor voltou de Paris piloto de avião e falante de francês. Ao chegar na
chácara de vovó, sua irmã Helmosa foi mostrar-lhe as diversas árvores
frutíferas. Inclusive, e principalmente, sapoti, sua fruta preferida.
Ambos,
Bianor e Helmosa, conversavam animadamente em perfeito francês, idioma no qual
eram fluentes.
A
palavra ça em francês é uma partícula que pode ser usada em diversas situações.
Coloquialmente, para significar "isto", "isso" ou
"aquilo". Helmosa então apresentou ao irmão recém chegado da França a
gostosa fruta sapoti.
Só que
ao ouvir sapoti, tio Bianor entendeu “Ça poti”. E pedia para comer poti.
Tia
Helmosa, que me ensinou as primeiras palavras em Frances, ria-se ao me contar
várias vezes essa história. “Ça poti” non, sapoti! E eu sempre lhe respondia em
Francês:
"C’est ça!", que significa
"isso mesmo!"