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terça-feira, 24 de setembro de 2024

Sapotilha, sapoti ou poti

Pedro Lucas Lindoso

 

No quintal de minha avó materna, Brigitta Daou, havia muitas árvores frutíferas. A casa da vovó ficava numa chácara, na Vila Municipal. Hoje Adrianópolis. No local foi construído um condomínio.  Algumas mangueiras teimam em ultrapassar anos, demolições e construções. Ultrapassaram também vidas, recordações e memórias.  Menos as minhas.

Além das mangueiras, havia pés de jambo, abricó, pitomba, ingá e sapotilha. Ou sapoti. Nunca soube qual seria o nome certo. Há ainda os que as chamam de sapota. Eu as chamo de sapotilha e pronto.

Minha amiga Ana Lucia, bióloga especialista em botânica, me disse que a sapotilha é nativa do sul do México e da América Central. A sapotilha é muito apreciada in natura. Cultivada em várias partes do Brasil. Desde o sul do estado de São Paulo até a nossa região amazônica.

Minha avó tinha duas irmãs e um irmão. Tia Antonieta, Tia Helmosa e Tio Bianor. Tia Helmosa gostava muito de sapotilha. Chamava-as de sapoti. O que deve ser o mais correto. Tia Helmosa era muito culta.  Teve uma educação primorosa. Além de um português escorreito, falava inglês e francês com perfeição. Principalmente, francês.

Tio Bianor era apaixonado por aviões. Foi estudar em Paris depois do fim da Primeira Guerra. O período entre guerras foi a Era de Ouro dos aviões.

Tio Bianor voltou de Paris piloto de avião e falante de francês. Ao chegar na chácara de vovó, sua irmã Helmosa foi mostrar-lhe as diversas árvores frutíferas. Inclusive, e principalmente, sapoti, sua fruta preferida.

Ambos, Bianor e Helmosa, conversavam animadamente em perfeito francês, idioma no qual eram fluentes.

A palavra ça em francês é uma partícula que pode ser usada em diversas situações. Coloquialmente, para significar "isto", "isso" ou "aquilo". Helmosa então apresentou ao irmão recém chegado da França a gostosa fruta sapoti.

Só que ao ouvir sapoti, tio Bianor entendeu “Ça poti”. E pedia para comer poti.

Tia Helmosa, que me ensinou as primeiras palavras em Frances, ria-se ao me contar várias vezes essa história. “Ça poti” non, sapoti! E eu sempre lhe respondia em Francês:

 "C’est ça!", que significa "isso mesmo!"