Amigos do Fingidor

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

A poesia é necessária?

 

Meu cavalo chegou

Farias de Carvalho (1930-1997)

 

Meu cavalo chegou (memória e nuvem),

a aurora derramada sobre a crina.

Meu cavalo chegou. Fome de tudo

estou também: engoliremos mundos.

 

Meu cavalo chegou. E, pressentidos,

os caminhos me espiam de suas rédeas.

Meu cavalo chegou. Há quanto tempo

gasto-me em pés e olhos nesta espera...

 

Meu cavalo chegou. Eu despertava

quando o vento falou-me de seus cascos

e a poeira garantiu-me sua presença.

 

Meu cavalo chegou. Cumprir-me-ei.

Tanta gente cansada nessas cruzes...

Meu cavalo chegou. Mortos, montai!...