Pedro Lucas Lindoso
Liguei
para a minha querida tia Idalina para saber como passou o réveillon. E,
claro, desejar-lhe um novo ano com saúde e prosperidade. Estranhei sua carinha
de tristeza no vídeo do celular. Ela foi logo dizendo, em francês: “Je suis
devastée”. Em tradução rápida significa estar arrasada.
Quando
ela fala francês comigo, das duas uma: ou está muito feliz ou muito triste.
Perguntei-lhe o que houve. E ela continuou gastando seu francês. “Riobaldo est
mort”.
Riobaldo,
cachorro de estimação de Idalina, morreu na passagem do ano novo. Uma tragédia
para titia. Já idoso, Riobaldo atordoado com o barulho de fogos de artifício,
após latir incessantemente, começou a sentir falta de ar. Segundo tia Idalina,
ele ficou ofegante. Era como se estivesse com dificuldade em puxar o ar para os
pulmões.
Titia
acha que Riobaldo enfartou em consequência dos fogos. Sabe-se que os fogos são
terríveis não só para os animais. Crianças e autistas sofrem muito com o
barulho. Idosos também.
Tia
Idalina diz que apesar de ter 70 anos não se considera idosa. E complementa:
– Os
fogos são desesperadores também para a terceira idade. Não é o meu caso. Mas
tenho amigas idosas que ficam em pânico.
Sabemos
que tia Idalina não tem só 70 anos. Ela foi ao baile do Rio Negro Club que
elegeu Terezinha Morango Miss Amazonas. Em 1957. Mas voltemos aos fogos do réveillon.
Para os
autistas os fogos trazem sobrecarga sensorial. O barulho é avassalador.
Provocam estresse e ansiedade. As luzes brilhantes também podem causar reações
aversivas.
Alguns
tem dificuldade em entender o que está acontecendo. Essa situação pode fazer
com que autistas fiquem, além de assustados, frustrados e desorganizados.
Teve
origem no Senado Federal um Projeto de Lei que proíbe a fabricação, o
armazenamento, a comercialização e o uso de fogos de artifício que produzam
barulho acima de 70 decibéis. Está em tramitação na Câmara dos Deputados.
Espera-se
que em breve a lei seja sancionada pelo Presidente da República. Afinal, três
cachorrinhas vivem no Alvorada. Esperança, adotada na visita do presidente na
cheia de Porto Alegre, Paris e Resistência. Esta última foi a cachorrinha que
ficou famosa e entrou para a história por ser o primeiro animal a subir a rampa
do Palácio do Planalto no dia da posse presidencial. O próximo réveillon
será sem barulho. É lei.