Zemaria Pinto
Fundado em 22 de novembro de 1954, mas
amadurecido desde cinco anos antes, o Clube da Madrugada germinou da resistência
de uma geração, nascida na segunda metade dos anos 1920 e primeira metade dos
anos 1930, ao marasmo governamental, que nada de interessante oferecia aos
jovens que concluíam os estudos médios, a não ser o curso de Direito. Restava a
esses jovens os caminhos do porto e do aeroporto, rumo ao Brasil.
Um grupo deles chegou a realizar duas viagens
pelo país, antes da fundação, para descobrir, num tempo de comunicações
precárias, o que acontecia de novo no país. Descobriram, por exemplo, o
Modernismo dos anos 20, o romance realista dos anos 30 e a chamada Geração de
45, da qual fazia parte o jovem estudante de medicina Thiago de Mello.
Em 1955, comemorando um ano de fundação, o
Clube da Madrugada lançou um manifesto, criticando as artes em geral e o
pensamento retrógrado da Academia Amazonense de Letras. O item Literatura, que
abre a seção crítica do manifesto, é uma verdadeira bomba: Não há literatura
no Amazonas. O resto é história.
Influentes nos 30 anos que se seguiram, além da
literatura, o Clube ajudou a plasmar a cultura amazonense como a conhecemos
hoje, nas artes plásticas, no cinema e na música, e, principalmente, na maneira
de pensar a cultura. 70 anos depois, o Clube mostra seu vigor no interesse que
desperta nos jovens por estudar sua gênese e seu desenvolvimento, longe ainda
de esgotar esses estudos.