Pedro Lucas Lindoso
Sou do tempo em que ficávamos três meses de férias. As aulas
só voltavam em março. Depois do Carnaval.
Um decreto de 1967 instituiu o ano letivo de 180 dias. Anos
depois, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estipulou 200 dias.
Para tristeza dos professores e alegria dos pais. Mas houve dias que não havia
lei impondo dias letivos e calendário escolar.
Naquele tempo morava-se em casas grandes, com quintal e
pátios. Os pais de classe média tinham a sua disposição babás e empregadas 24
horas por dia. As mães de outrora tinham ajuda para reparar as crianças,
inclusive nas férias escolares.
As coisas mudaram. Manter uma babá custa caro. Elas têm seus
direitos trabalhistas. O que é muito justo.
Assim, nos dias atuais, os meses de férias podem ser
dramáticos para algumas famílias. Crianças presas em apartamentos a ponto de
ficarem com os olhos quadrados ou retangulares. De tanto ver telas. Da
televisão, do computador, do tablet e principalmente do celular.
O ideal é que as famílias pudessem viajar. Outro dia, minha
netinha Catarina, de apenas dois anos e meio, espantou a todos:
– Quero ir para Disney!
Com o dólar nas alturas acho que Catarina vai ter que esperar
um pouco. Um amigo de Brasília, pai de quatro filhos, era sempre cobrado para
levá-los à Disney. Invariavelmente, respondia:
– É um lugar para onde todos vamos um dia.
Ariano Suassuna após ser eleito para a Academia Brasileira de
Letras foi perguntado por uma socialite carioca se conhecia a Disney. Ao dizer
que não, o espanto e desapontamento da senhora foi tanto que Suassuna concluiu
que a humanidade se dividia em duas classes. Os que conheciam e os que não
conheciam a Disney.
A família do meu amigo brasiliense pertencia à segunda
categoria. Não tinham ainda ido lá. Mas levar todos os seis não seria fácil. E
não era por falta de pedidos. A resposta era sempre a mesma. A menorzinha
perguntou diferente: pai onde fica mesmo a Disney? A resposta não mudava:
– Um lugar aonde todos vamos um dia.
Há quinze dias, o pai do meu amigo de Brasília, um vovozinho
simpático, lúcido, muito querido, faleceu dormindo, aos noventa e seis anos. O
caçula perguntou ao pai:
– Pai, para onde o vovô foi? O pai respondeu:
– Um lugar aonde todos vamos um dia. O menino espantado
exclamou:
– Vovô foi para a Disney!