Amigos do Fingidor

quinta-feira, 15 de junho de 2023

A poesia é necessária?

 

Hora grande

Onésimo da Silveira (1935-2021)

 

1

O mar sairá

Das nossas ilhas

Das nossas ruas

Das nossas casas

Das nossas almas...

 

0 mar irá para o mar

E limpos finalmente do lodo das algas

E libertos do sal do nosso sorriso de enteados

Seremos frutos de nós mesmos

Nascendo da barriga negra da terra...

 

2

Os náufragos

Do lago da nossa quietação

Erguerão os seus braços de todas as cores

E as suas mãos se fartarão

Da luz de um poente maduro!

 

O negreiro estará perdido na légua do tempo

Porque a alma das nossas vozes

Não morrerá no fundo dos porões...

 

A fome não se alimentará da fome

E voaremos nas asas do Sol

Com o destino na palma da mão!

 

3

Nas feridas do seu parto

As raízes do nosso umbigo beberão a seiva

E no ventre da "mamã-terra"

 

Germinarão as sementes das nossas certezas

E nos embriagaremos da carne dos seus frutos...

 

As crianças nascerão sem metas nos olhos

E as suas mãos sujar-se-ão

Do mel do nosso olhar...

 

As crianças serão crianças!

Negras e loiras e brancas

Serão pétalas da mesma flor...