Hora
grande
Onésimo
da Silveira (1935-2021)
1
O mar sairá
Das nossas
ilhas
Das nossas
ruas
Das nossas
casas
Das nossas
almas...
0 mar irá
para o mar
E limpos
finalmente do lodo das algas
E libertos
do sal do nosso sorriso de enteados
Seremos
frutos de nós mesmos
Nascendo da
barriga negra da terra...
2
Os náufragos
Do lago da
nossa quietação
Erguerão os
seus braços de todas as cores
E as suas
mãos se fartarão
Da luz de um
poente maduro!
O negreiro
estará perdido na légua do tempo
Porque a
alma das nossas vozes
Não morrerá
no fundo dos porões...
A fome não
se alimentará da fome
E voaremos
nas asas do Sol
Com o
destino na palma da mão!
3
Nas feridas
do seu parto
As raízes do
nosso umbigo beberão a seiva
E no ventre
da "mamã-terra"
Germinarão
as sementes das nossas certezas
E nos
embriagaremos da carne dos seus frutos...
As crianças
nascerão sem metas nos olhos
E as suas
mãos sujar-se-ão
Do mel do
nosso olhar...
As crianças
serão crianças!
Negras e
loiras e brancas
Serão
pétalas da mesma flor...