Pedro Lucas Lindoso
Era
madrugada. Solicitamos um Uber para irmos para o Aeroporto Eduardo Gomes. O
rapaz que nos atendeu foi bastante atencioso. Ajudou-nos com as malas. Abriu a
porta do carro e cumprimentou-nos com educação e respeito. Notei de início que
ele tinha um olhar extremamente triste e cansado. Fiquei preocupado. Estaria
ele em condições de dirigir?
Na
parte de cima do painel havia carrinhos de brinquedo e o retrato de um
garotinho. Perguntei-lhe se o menino era seu filho. Ele acenou afirmativamente
e disse que na época ele tinha dois anos e meio. E disse tristemente que o
Papai do Céu o havia levado.
Sempre
achei que pais jamais deveriam enterrar seus filhos. É antinatural. Percebe-se
que deve ser uma dor imensa. Como superar um evento tão doloroso? O rapaz disse
que desde então não conseguia dormir. Por isso trabalhava à noite. A dor da
perda do filho era insuportável.
Como
exigir ou falar sobre resiliência com uma pessoa assim? Em sentido figurado, resiliência é a
capacidade que algumas pessoas têm de se recobrar ou mesmo se adaptar e superar
facilmente um evento trágico ou danoso, às mudanças drásticas ou ainda uma
grande má sorte.
A
resiliência é vista por psicólogos como um estímulo a ser dado aos indivíduos
para superar obstáculos que surgem vida afora. Por meio da inteligência
emocional, os indivíduos devem agir de maneira ponderada em situações de
estresse e mudanças, buscando sempre a adaptação. Como aquele rapaz poderia se
adaptar a perda de seu único filhinho?
O rapaz
ponderou que um passageiro havia lhe falado sobre resiliência. Explicou-lhe que
a água pode ser esquentada até ferver e depois volta ao estado natural
novamente. A água pode ficar congelada, virar gelo e voltar ao normal. Mas a
água não é humana. A água não é gente. A água é coisa. “Eu não sou uma coisa.
Eu sou humano”. Desabafou o rapaz.
É senso
comum que a pessoa resiliente é capaz de se adaptar e crescer quando colocada
frente a uma crise. Ou seja, consegue se equilibrar emocionalmente para achar
caminhos, soluções para as adversidades e, com elas, tornar-se mais forte.
Não nos
foi possível opinar ou sugerir algo que pudesse ajudar o rapaz a se equilibrar
emocionalmente. Algo que o ajudasse a se tornar mais forte e superar a perda do
filhinho.
Pensei
nos meus filhos e nas minhas netinhas. Estão todos proibidos de partirem antes
de mim. Como disse o rapaz, não sou água para voltar ao normal assim
facilmente. Resiliência tem limites.