Amigos do Fingidor

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As águas negras da morte

Rogel Samuel*


Era noite de natal.

No natal, a Edilene tomou o barco no Paraná da Eva, em Itacoatiara, a 270 km de Manaus, com seus dois filhos, Heloisa, de 4 anos, e Kelvin, de sete.

Era noite escura de natal, naquele último natal.

No meio da viagem, durante a travessia do rio, o barqueiro, um jovem de 16 anos, resolve matar Edilene, jogando-a na água, para apropriar-se de sua bolsa, onde havia R$ 90,00.

Empurra-a na água.

Na luta que se segue, a bolsa também cai. Perde-se. O barqueiro volta para Itacoatiara.

Como as crianças gritam e choram, ele as joga no rio.

“Eu os joguei no rio porque eles estavam gritando muito, chamando pela mãe, e isso me deixou irritado”.

Entretanto, Edilene, a mãe, conseguiu salvar-se a nado.

Deu com um banco de areia, e foi achada naquela mesma noite por outros dois meninos que brincavam.

Eram outros dois meninos, mas não eram os seus.

Os seus desapareceram.

Era noite de natal.

Sim, era.

(A notícia estava nos jornais de Manaus).

(*) Publicado originalmente no blog do autor.