Amigos do Fingidor

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Generosidades-bondades construindo saberes nas academias 1/2

João Bosco Botelho

Os ideais da Academia de Platão, da Escola Médica de Cós de Hipócrates e do Liceu de Aristóteles, amalgamadas às bondades-generosidades como instrumentos do ensino, partes da genialidade grega em torno da paideia, especialmente, o conjunto da produção intelectual no século 4 a.C., estavam claramente pautados na educação como o principal instrumento das mudanças sociais.

A herança grega, mancando os conhecimentos ocidentais, recebeu muitas interpretações de consagrados intelectuais nos séculos 18 e 19.

O historicismo kantiano admitiu a unicidade absoluta do evento histórico e a multiplicidade na apreensão do mesmo evento. Nesse historicismo é marcante a presença da generosidade, no sentido lato de bondade, bem, bom, desde os primeiros registros nas linguagens-culturas. Do lado oposto, em contraponto, o mal, a maldade, o egoísmo.

Fica muito difícil apreender tamanha grandeza na construção do Ser, entre o bem e o mal, presente no mundo como sendo de exclusiva natureza social.

Há de existir a presença pré-social!

No futuro próximo, as explicações de alguns eventos coletivos que se repetem nos quatro cantos do mundo, como a generosidade-bondade, passará à conjunção sociogenética.

Os livros sagrados, entre os primeiros registros escritos organizados em torno de ideais centralizadores de organização e controle sociais, estão repletos de citações que envolvem a presença de deuses e deusas que reproduzem generosidades-bondades como marcos pacificadores na administração dos conflitos pessoais e coletivos, que foram reproduzidos com incontáveis metáforas laicas.


Budismo

Identifica entre as Dez Perfeições, Metta é identificada como bondade amorosa. Na mesma trilha, Tenzin Gyatso, o décimo quarto dalai-lama, assinalou no livro A bondade, clareza e Insight: “minha religião é a bondade”.


Cristianismo primitivo

A palavra grega “agathosuné” é compreendida como generosidade, benignidade. Por outro lado, alguns filólogos acreditam que “agathosuné” e “chrestotes” se confundiam. A influência grega contribuiu para que a palavra chrestos compreendida como “útil, bom, propício” (Lc 5.39 e Mt 11.3) tenha absorvido o significado “moralidade, bondade genuína vinda do coração” (Rom 3,12; 1Co 15,33 e Gal 5,22). Essa interpretação aderiu na Roma dos primeiros séculos motivando alguns imperadores e políticos terem essa palavra gravada junto aos títulos nas menções públicas.


Bíblia

O senso bíblico da generosidade-bondade abrande quatro significantes:

– Simpatia: amigável, buscando formar e fomentar as relações pessoais (1 Cor 13:4, 5);

– Compaixão: bondade cuidadora (Ef 4,32);

– Serviço: bondade generosa voltada à ajuda aos necessitados (Mc 10,51);

– Tolerância: paciência diante da provocação e ingratidão (Rm 2,4; Lc 6:35; 2 Co 6,6-7).

No Antigo Testamento, a generosidade-bondade é expressa em 246 citações da palavra tûbh, derivada da raiz tôbh, referindo-se ao “bem” ou à “bondade”, pressupondo muitos sentidos. Um dos mais importantes se refere à bondade moral (2 Cr 31,20; Sl 34,14), recorrida na busca de perdão (Sl 25,7).

No cristianismo não há necessidade de compreender as pessoas melhores umas das outras porque todas são filhos e filhas do mesmo Deus. O ponto de partida da generosidade-bondade é o próprio Deus:

– 1 Crônicas 16,34: Deus é bom;

– 2 Crônicas 30,18-20: Deus é bom e perdão;

– Salmo 31,19: Grande é a bondade de Deus;

– Salmo 107: Deus merece ser louvado por Sua bondade;

– Lamentações 3,25: Deus é bom para os que esperam Ele.

Concentrando a ágape cristã da generosidade-bondade está no Evangelho de João 15,12-14: “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como Eu os amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”.