Amigos do Fingidor

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Diagnóstico e tratamento das doenças na leitura greco-romana



João Bosco Botelho

No século 4 a.C., na Grécia, na Escola Médica de Cós, sob a liderança de Hipócrates, a palavra higiene se impôs no sentido regulador, tanto na alimentação quanto no caráter educativo. Nesse contexto, a ginástica fazia parte da manutenção da saúde. Por esta razão, os ginastas permaneceram independentes frente ao crescente poder médico nas relações sociais e também conquistaram papel importante no aconselhamento do corpo sadio.
O texto De um Regime de Vida Saudável se propõe servir de guia ao público. O autor desconhecido estabeleceu os parâmetros da cultura médica mínima da vida saudável. O objetivo central do autor seria estabelecer, pela lei, o caminho que as pessoas deveriam seguir para evitar a doença.
O propósito parece ter sido o mesmo do autor do livro Da Dieta que aborda a importância da alimentação balanceada com frutas e legumes.
A estrutura teórica da Medicina como paideia, na Grécia, no século 4 a.C., estava tão bem elaborada que perpassou o mundo romano. No século 2 a.D., o médico Galeno (138-201), o mais conhecido representante da medicina romana, acoplou a cada humor da Escola de Cós, da teoria dos Quatro Humores (sanguíneo, fleumático, bilioso preto e bilioso amarelo) novas categorias por ele denominadas temperamentos (sanguíneo, linfático, melancólico e colérico). Os escritos galênicos, valorizados durante mais de quinze séculos no Ocidente cristão, valorizava a sangria, sudorese, diarreia e vômito como formas de tratamento para equilibrar os humores e restabelecer a saúde.

Humor (Grécia)                  Temperamento (Roma)

Sanguíneo                                   Sanguíneo
Fleumático                                     Linfático
Bilioso preto                                Melancólico
Bilioso amarelo                              Colérico

A flexibilidade da Medicina como paideia acabou ferida, na Idade Média, pela intolerância restritiva exaltando a doença como pecado e o milagre como principal prática de cura. Os santos substituíram os deuses e deusas greco-romanos e se tornaram o único tratamento dos doentes sem esperanças, nos incontáveis santuários, especialmente, em Jerusalém e Compostela.
A influência greco-romana trazida pelo elemento colonizador marcou as práticas médicas coloniais: a princesa Paula Mariana, filha do primeiro imperador do Brasil, sob os cuidados dos mais importantes médicos da corte, faleceu após ser submetida às muitas sangrias e clisteres para expurgar os “maus humores”. O mesmo pensamento se manteve na Europa do século 19: o viajante Von Martius, no Amazonas, descreveu o temperamento dos índios como “fleumático, por terem pouco sangue nas veias”.

As construções teóricas dos saberes, independente dos juízos de valores, se mostram competentes e duradouras na medida da durabilidade do pensamento inovador: a teoria dos Quatro Humores, do tempo de Hipócrates, na Grécia do século 4 a.C., e a teoria dos Temperamentos, do médico romano Cláudio Galeno, no século 1, sustentaram a veracidade do diagnóstico e do tratamento por quase vinte séculos.