Amigos do Fingidor

terça-feira, 2 de junho de 2015

Aos botos, mais vida!



Pedro Lucas Lindoso

A Baía da Guanabara continua poluída. As vésperas das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o velejador Lars Grael, em triste depoimento, diz: “ninguém gosta de velejar na sujeira”.
A família real veio para o Brasil em 1808. Além de dona Maria, a louca, veio com Dom João VI e dona Carlota Joaquina e o filho Pedro, um garoto de 10 anos de idade, que viria a ser nosso primeiro imperador.
Ao entrar na Baía da Guanabara todos ficaram maravilhados com a beleza do Pão de Açúcar e do Corcovado. Contudo, a família imperial encantou-se com a quantidade de golfinhos que pulavam alegremente entre as diversas naus e fragatas que trouxeram aqueles que mudariam a nossa História para sempre.
Minha amiga Ana Lúcia, que é bióloga, certa vez me disse que os golfinhos e os botos são a mesma coisa. Não há nenhuma diferença. É só uma questão de nomenclatura regional. São todos cetáceos.
Eles, os botos, digo, os golfinhos, constam do escudo oficial da cidade do Rio de Janeiro. Mas não mais existem golfinhos na Baía da Guanabara. Estão ausentes, dizem, há mais de um século.
Quando eu era menino aqui em Manaus, passeava-se pela Baía do Rio Negro até o Encontro das Águas. Havia muitos botos, nossos golfinhos, habitando o local. Outro dia fui por lá e não vi nenhum. Lembro-me que gritávamos aqui!, quando um pulava. Ali!, quando outro pulava. Apelidei os botos de Aqui e Ali, num livrinho de estória de minha autoria.
Estou preocupado com os nossos botos. A carne do boto está sendo utilizada como isca para pescar o bagre piracatinga, um peixe exportado principalmente para a Colômbia e vendido enganosamente como capaz ou capacete.
Mas a poluição da nossa Baía do Rio Negro também preocupa. E muito. Espero que não seja mesmo construído o tal porto em frente ao Encontro das Águas.
O Hino do Amazonas, na bela letra do poeta Jorge Tufic, conclama:
- “aos que lutam, mais vida e riqueza.”

Digo eu: aos botos, mais vida! A nossa riqueza está na nossa fauna e na nossa floresta.